O adeus de Dale Earnhardt Jr

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Olá, amigos!

Na semana passada o mundo da NASCAR foi pego de surpresa com o inesperado anúncio da aposentadoria de Dale Earnhardt Jr. O piloto do carro de número 88, filho do sete vezes campeão Dale Earnhardt, convocou uma coletiva de imprensa junto com o chefe de sua equipe, Rick Hendrick, e falou por mais de uma hora com a imprensa, fazendo primeiro um discurso emocionado, e depois respondendo perguntas.

A reação ao anúncio do piloto da Hendrick na comunidade da NASCAR foi bastante significativa, com depoimento de vários pilotos e ex-pilotos, comentaristas e pessoas relacionadas à categoria, todos exaltando o grande homem que havia se tornado e o grande impacto causado no esporte.A aposentadoria de Dale Jr. e toda a repercussão me levou à uma reflexão sobre pilotos que não foram campeões, mas tiveram impacto por onde passaram e sempre foram bastante respeitados.

Apesar de não ter sido campeão na categoria principal da NASCAR, Dale Junior venceu provas importantes, além de ter levado o caneco da Xfinity Series por duas vezes seguidas, nos anos de 1998 e 1999.

Na Monster Energy NASCAR Cup Series, onde Dale Earnhardt Jr. corre há espantosos 19 anos, venceu 26 provas, entre elas a mítica Daytona, por duas vezes, e Talladega por incríveis 6 vezes, sendo quatro delas de forma seguidas. Além das vitórias, o piloto conquistou 149 “top 5” e 253 “top 10”. Sua posição mais alta em um campeonato foi conquistada no ano de 2003, quando chegou na terceira colocação. O piloto conseguiu bons números em sua carreira, mas a sombra dos resultados de seu pai nas pistas sempre foi grande demais.

Após a morte de Dale Earnhardt no ano de 2001 enquanto defendia a posição de seu filho em Daytona, Dale Jr. recebeu um apoio muito grande dos torcedores, se tornando o piloto mais popular disparadamente. O jovem herdeiro de um dos nomes mais importantes da NASCAR era rápido, vencia corridas, mostrou ser um piloto muito bom, mas não podia ser comparado à seu pai, que realmente foi um “fora de série”. Na verdade, a comparação não deveria ser feita, mas o sobrenome sempre pesa.

Dá quase para fazer um paralelo com a história Senna-Barrichello, ainda que não fossem parentes: o grande campeão morre na pista e seu herdeiro carrega o fardo de conseguir os mesmos resultados. A tarefa que, senão impossível, seria bastante improvável de acontecer. Outro que sofreu com a “maldição do sobrenome foi Bruno Senna. Um exemplo de piloto que teve que carregar o peso do nome do pai e conseguiu se sair bem foi Jacques Villeneuve, que venceu na F1 e Indy 500. Apesar do grande sucesso, nunca foi comparado ao pai em termos de pilotagem, já que Giles também era considerado um “fora de série”, mesmo não tendo sido campeão.

No ano passado, Dale Jr. teve que se afastar das pistas por um longo período, após sofre um acidente e ter que fazer um tratamento prolongado para cuidar de uma lesão na cabeça. Algumas corridas atrás, outro acidente forte, o que pode ter contribuído para acelerar o processo de aposentadoria. Nas declarações oficiais, o piloto disse que gostaria de encerrar sua carreira por seus próprios meios, cumprindo seus contratos, mas ressaltou, ao responder perguntas dos repórteres, que os acidentes também tiveram influência na sua decisão. Em um momento da entrevista disse até que chegou a pensar que talvez sua carreira já estivesse terminada, já que o processo de recuperação não dava à ele a certeza de que voltaria 100%. Diante dessa possibilidade, ele não poderia escolher o contrário e a aposentadoria aconteceria de qualquer forma. Jr. também disse que conquistou muito mais do que imaginou e que a decisão de ser aposentar, apesar de ser difícil de ser tomada, foi bem calculada. Junior também disse que não pretende se afastar da NASCAR, mantendo sua equipe na Xfinity Series, inclusive fazendo algumas corridas, e participando ativamente do trabalho.

Voltando à reflexão que fiz no começo da coluna, apesar dos bons resultados, Dale Jr. nunca conseguiu ser campeão da categoria principal, enquanto seus companheiros de equipe o fizeram por diversas vezes na mesma equipe (Jeff Gordon e Jimmie Johnson). De qualquer forma, seus fãs o seguem fielmente, até hoje, e seus companheiros de pista o respeitam muito. Junior sempre foi um excelente piloto nas pistas onde os carros usam placas restritivas, como Daytona e especialmente Talladega, mas nunca conseguiu manter uma constância que o levassem ao título. Diante desse cenário de não ter conseguido levar o título, ainda me pergunto: o que fez a comunidade da NASCAR ter essa reação tão grande quando o piloto anunciou sua aposentadoria?

Muitos dizem que Junior contribuiu muito para a segurança da categoria, inclusive após seu acidente em 2016, quando levantou questões sobre proteção e alerta sobre ferimentos de cabeça nas pistas. Outros ressaltam o trabalho de Junior nas categorias de base, sempre apoiando e dando oportunidades para jovens talentos. Eu não descartaria nenhuma dessas contribuições de Junior para medir sua importância no esporte, mas acredito em um terceiro fator: o fardo de ter perdido seu pai enquanto dividiam a pista. A compaixão dos torcedores, organizadores e pilotos sempre foi bastante grande para com Dale Jr. por tudo o que ele passou no momento trágico da morte de Dale Earnhardt.Ele ainda era um garoto quando seu pai morreu nas pistas e isso fez com que muitos tivessem um carinho especial pelo piloto.

Dale Jr. irá se aposentar no fim do ano, então prometeu competir com muita vontade até sua última prova. Uma de suas pistas de maior sucesso está chegando, a famosa Talladega. Será que ele consegue garantir uma vaga nos Playoffs? Particularmente, espero que sim, para que ele possa encerrar sua carreira ainda brigando por uma chance de vencer o campeonato. Seria bom para ele, seria bom para seus fãs.

Enquanto isso, o campeonato continua pegando fogo. Kyle Larson continua na liderança, seguido de Martin Truex Jr. e Chase Elliott, o único entre os cinco primeiros ainda sem vitória. Será que ela vem no próximo fim de semana? Vamos acompanhar.

Grande abraço!
Rafael Mansano

Rafael Mansano
Rafael Mansano
Viciado em F1 desde pequeno, piloto de kart amador e torcedor de pilotos excepcionais.

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