Recomeço e Reconstrução – Parte II

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Zanardi no Podio da Paralimpiada 2016

É muito difícil começar do zero. Todo dia você tem batalhas para enfrentar, invariavelmente na maioria das vezes está sozinho.

Por outro lado, é maravilhoso quando seu projeto de recomeço começa a caminhar e dar resultados.

Melhor ainda quando você descobre que existem outras possibilidades e caminhos que podem ser percorridos e explorados, como se costuma dizer, as vezes é fora da zona de conforto que encontramos algo que pode trazer significado e motivação as nossas ações.

Hoje percebemos que para Zanardi a palavra impossível definitivamente não estava em seu dicionário, sua vontade de estar em competições automobilísticas, após seu acidente, mesmo em categorias menores, impressionava mais e mais as pessoas.

Nessa fase ele resolve conhecer mais sobre a vida de pessoas amputadas, seu maior desafio a partir dali era estar dentro de um carro e ser competitivo, só que as próteses existentes não eram compatíveis para um piloto de carro, além das exigências de segurança que a FIA impunha, elas eram desconfortáveis e sem dispor da agilidade necessária não ajudavam no processo de pilotagem
Zanardi resolve ajudar a projetar novas pernas adaptáveis e para isso vai conhecer centros de amputados, nessa circunstância ele conhece mais pessoas na mesma situação dele, ele relatou que no começo achava estranho ver algumas pessoas andando com pernas adaptadas, mas aos poucos foi entendendo que era uma oportunidade para voltar a uma vida normal
Nessa jornada a esse novo universo, ele conhece as atividades esportivas de pessoas deficientes, para sua surpresa existe uma modalidade que se encaixa no seu gosto por velocidade, o ciclismo

O italiano conheceu o para-ciclismo através do suíço Clay Regazzoni, também ex-piloto de Fórmula 1, sobrevivente de um grave acidente em Long Beach 1980 que o deixou paraplégico.

Zanardi Foi convidado a competir com uma bicicleta de mão pela primeira vez em 2007, na Maratona de Nova York, ele termina a prova na quarta posição, toma tanto gosto que resolve praticar a modalidade a sério e participa de uma série de eventos ligados a modalidade

Através desse maior envolvimento é que Zanardi resolve se preparar para participar dos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012.

Aos 45 anos de idade, 11 anos após a tragédia que poderia ter tirado sua vida, que em muitos casos tirariam o ânimo para seguir adiante, Zanardi em sua primeira participação nos Jogos Olímpicos conquista 3 medalhas, duas de ouro e uma de prata.

Inacreditável é a palavra que melhor descreve essa façanha, mas não para esse italiano que surpreende a cada dia o mundo

Assim como competir no automobilismo de alto nível, desde o acidente, Zanardi fez dessa transição bem sucedida um recomeço e reconstrução de sua vida e carreira, culminando com o triunfo de jogos de Londres 2012.

Numa das cenas mais marcantes dos jogos, após ganhar a sua primeira medalha de ouro, ele levanta a sua bicicleta acima de sua cabeça na celebração de um sucesso.

Ele disse: “ Eu sou Alex Zanardi, eu sempre tenho que inventar alguma coisa no final de uma corrida” – de forma a descontrair ele falou: “eu tenho uma cabeça grande e precisava destacar o meio ao qual eu consegui chegar hoje e vencer”.

Continuando a fala: “Meu grande amigo Jimmy Vasser me ligou ontem e disse que se você ganhar uma medalha de ouro, vou colocá-lo em um carro para correr a Indy 500, por isso vou ter de ligar de volta hoje à noite cobrando sua promessa”.

Isso nos faz lembrar que em muitas vezes num recomeço, ter o apoio de amigos e familiares é fundamental para que possamos manter nosso foco e motivação na direção desejada, que o sentimento nunca seja o de desistir

Continuando a sua fala após as conquistas ele menciona: “o momento mais difícil; foi o da espera e da reconstrução, é muito, muito difícil esperar”

Adicionado: “Eu estava um pouco mais emocional, mas sabia que o resultado e o prêmio era muito alto. Eu sabia que eu só poderia fazer o meu melhor e eu tinha que ser feliz, e não deixar de tentar”

Zanardi minimizou sua façanha pessoal, até para adicionar uma humildade e tirar a aura de heroismo, que nesse ponto é motivador para que outros possam tentar seguir a mesma trilha

“Qualquer um pode ser uma inspiração para o outro” ele disse.

“ Quero agradecer todo mundo em todo o mundo que me ajudou. Não pensei que se tornaria realidade, mas estando aqui eu realizei algo muito, muito importante, e quero compartilhar com outros em situação semelhante a minha”

“É muito difícil para as pessoas com deficiência no mundo em que vivemos, mas acho que eu ter mostrado que eles podem fazer muitas coisas. Este é um dos maiores exemplos que podemos mostrar para eles, para inspirá-los a ir mais longe”.

Sabem que interessante eu pude perceber ao escrever sobre esse feito de Zanardi, no automobilismo pensamos e falamos muito em “bota”, ou seja, nas pernas e pés, é nosso modelo mental de um piloto de competição.

Zanardi precisou se reinventar a partir das mãos, foi lá que ele precisou concentrar sua vontade de ser novamente veloz, o que mostra que as vezes mudar nosso foco de modelo pode ser algo tremendamente positivo para um recomeço.

Passados mais 4 anos chegamos aos Jogos Olimpicos no Rio de Janeiro em 2016

Novamente Zanardi está presente na equipe olimpica italiana e volta a subir no pódio, dessa vez com a conquista de mais dois ouros e uma prata, surpreendente quando lembramos que ele estava com 49 anos de idade.

“Sinto-me como todos os maiores atletas do mundo” ele disse. “Ouvir a multidão aplaudindo-me me deixou muito feliz”.

Refletindo sobre seus feitos,sua família, seus amigos e o que ele hoje serve de inspiração, ele falou:

“Quando eu estou correndo tenho que concentrar-me no que estou fazendo,isso é o que me motiva”

Acrescentando.

“Então se eu posso estar aqui eu estou Ok, se toda a minha família está comigo eu estou Ok, se todos meus amigos estão comigo eu estou Ok, se eu posso ajudar pessoas a estarem aqui, eu estou Ok”.

Protagonista de uma das maiores histórias de superação do esporte, o italiano que foi bicampeão da CART e disputou cinco temporadas da categoria mais importante do automobilismo, a Fórmula 1, a última delas em 1999, representando a equipe Williams.

Ao retornar para a CART, em 2001, sofreu um grave acidente e teve as duas pernas amputadas.

Mesmo assim, Zanardi nunca desistiu das corridas. Depois de um período de recuperação, ele disputou o WTCC e saiu vitorioso em três oportunidades, mas foi no para ciclismo que ele se encontrou
Você sabe o que o início do ano, a segunda-feira e o amanhã tem em comum? É o começo de algo novo. É um presente que a vida te dá para iniciar de novo. É um novo começo, uma nova chance, uma nova oportunidade para você criar algo melhor, algo novo e especial.

Quando a vida te pede para que você comece tudo de novo e reconstrua sua vida a partir do zero, em vez de entrar em pânico e olhar para a coisa toda como uma punição, em vez de permitir que o medo paralise você. Tente olhar para a experiência como um novo acaso. Como uma nova oportunidade para você criar a sua vida em uma fundação mais forte e saudável. Uma nova oportunidade para você ser feliz. Para começar tudo de novo e mostrar ao mundo o que tudo é possível.

Nunca é tarde para recomeçar e reconstruir

Abraços
Mário

Mário Salustiano
Mário Salustiano
Entusiasta de automobilismo desde 1972, possui especial interesse pelas histórias pessoais e como os pilotos desenvolvem suas carreiras. Gosta de paralelos entre a F1 e o cotidiano.

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Mario,

    Sensacional!!!!!!!!!
    Alex Zanardi bem que poderia apenas dizer como Chris Amon disse ao dizer se sentir vitorioso na sua carreira na Formula 1 ou na CART (sem nunca ter vencido uma corrida oficial na Formula 1) apenas por estar vivo na chegada de sua aposentadoria …Zanardi sobreviveu milagrosamente uma pancada que no tempo do Chris, certamente ele estaria morto e estraçalhado … Zanardi está não só vivo, é um exemplo de vida … quem gosta da vidae de viver geralmente é sempre assim … o cara é show … ele é um verdadeiro CAMPEÃO!!!

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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