Essa coluna foi publicada originalmente no blog do João Carlos, segue link:
A comparação é inevitável. Charles Leclerc mantinha uma suada primeira posição, tendo Max Verstappen como seu principal rival e qualquer erro, o neerlandês da Red Bull tomaria a ponta do piloto da Ferrari. Leclerc liderava naquele momento sozinho, pois Verstappen tinha acabado de fazer sua parada. Então, do nada, se viu uma Ferrari espetada no muro. Assim como ocorreu em Hockenheim em 2018. Vettel ainda liderava o campeonato naquela ocasião e sua saída de pista bem na frente do seu público foi um turning point não apenas daquele campeonato, mas também da carreira de Sebastian. A partir daí, Vettel nunca mais foi o mesmo piloto que encantou a F1 no começo da década de 2010.
Leclerc já havia perdido vitórias em 2022 e por isso não liderava o certame desse ano, mas no terceiro abandono de Charles, ele não pode culpar a Ferrari. E também não estava chovendo, como ocorrera quatro anos atrás no caso de Vettel. Se em 2018 Hamilton pavimentava seu caminho rumo ao seu quinto título, Verstappen começa a fazer uma conta mental de quantas provas faltam para ele conseguir seu segundo título
Como esperado, um calor quixadaense se abateu em Le Castellet, com os termômetros marcando 31,5º na reta dos boxes de Paul Ricard, que segundo consta, recebeu sua última corrida na F1. Apesar da França ser um estrado tradicional da F1, sempre faltou um palco que os gauleses pudessem chamar de seu, tanto que vários circuitos receberam o circo da F1. Mesmo com estruturas ainda modernas, as caixas de escapes eternas e coloridas, mais a terrível chicane no meio da Mistral fez de Paul Ricard não entrar no gosto de pilotos e público, mesmo a pista estando bem parecida com a antiga. Com cada vez mais países querendo entrar no calendário da F1 colocando muito dinheiro, os franceses, que batizaram o ‘Grand Prix’, ficarão novamente sem corrida a partir de 2023, repetindo o que ocorre com a Alemanha, mesmo tendo equipe e pilotos na F1 atual. Porém, pelo o que foi visto em Paul Ricard, a pista não fará tanta falta assim. O forte calor no asfalto fez com que a maioria dos pilotos abrandassem o ritmo, com receio do desgaste de pneus e por isso, as brigas foram pontuais, sendo que a principal, pela vitória, estava bipolarizada entre Charles Leclerc e Max Verstappen. Correndo praticamente em casa, o monegasco largou muito bem e não teve trabalho para se manter na ponta, com Max tendo um pouquinho de labuta para segurar os ataques de Hamilton, que ultrapassou um sorumbático Sergio Pérez no apagar das cinco luzes vermelhas.
Desde ontem se sabia que Ferrari e Red Bull tinham optado por diferentes acertos em seus carros, com a Ferrari preferindo mais pressão aerodinâmica para cuidar dos pneus, enquanto a Red Bull escolheu correr com menos asa e ser mais rápida nas retas. Quando Max encostou em Charles nas primeiras voltas, era esperado que o representante da Red Bull voasse para cima da Ferrari, mas Leclerc se portou muito bem frente aos ataques de Verstappen, que quando percebeu que seus ataques não teriam maiores êxitos na pista, tratou de fazer o que a maioria estava fazendo: poupar os pneus. À essa altura, a dupla da frente já tinha 6s de vantagem para Hamilton, que foi atacado por Pérez, mas o mexicano emulou a estratégia do companheiro de equipe e ficou na sua, poupando borracha. Quando alguns carros do pelotão de trás começaram a visitar os pits, Verstappen foi para os boxes colocar pneus duros, teoricamente, para não mais troca-los. O motivo era a nova saída de boxe, muito longa e que aumentou mais em alguns segundos todo o procedimento de parada. Por exemplo, derrubando Max para sexto, atrás de Norris. Como os pneus duros não estavam tão eficientes como esperado, a Ferrari resolveu deixar Leclerc na pista, lembrando que Charles tinha pouco mais de 2s de frente quando Max parou. Porém, tudo foi por água abaixo na volta 18. No final da pequena reta após a chicane, Leclerc errou na rápida curva onde o piloto trabalha bastante o pedal, perdeu o controle do carro e foi para o muro de pneus. A forma como Leclerc gritava e arfava no rádio mostrava bem a frustração do piloto. Primeiro se desconfiou do acelerador da Ferrari, algo que já havia trazido problemas para Leclerc na prova passada, em Silverstone, mas quando Leclerc, ainda cuspindo maribondo, foi falar com a imprensa, ele confirmou que ele havia errado e jogado pela janela uma vitória praticamente em casa, além de entregar 25 pontos inteiros para Verstappen, que após a parada de Leclerc, partiu impávido rumo a sétima vitória do ano e consolidando uma vantagem grande o bastante (65 pontos) para começar a fazer aquelas contas de o que será necessário daqui para frente para ser campeão.
Foi um golpe e tanto para a Ferrari. Além do deprimente abandono de Leclerc, o time via um Carlos Sainz muito forte, que largou com pneus duros e já começava a se aproveitar do desgaste dos pilotos que largaram com pneus médios e escalava o pelotão. Com o Safety-Car trazido pelo incidente de Leclerc, a Ferrari trouxe Sainz para os pits mais cedo do que o programado e colocou, por ordem do regulamento, pneus médios. Faltando mais de dois terços de corrida, era lógico que o espanhol não teria pneus para ter um desempenho decente até o final. Então Sainz aproveitou para fazer duas belas ultrapassagens sobre Russell e Pérez antes de fazer uma necessária segunda parada, para desgosto de Carlos, que várias vezes questionou sua equipe pela tática escolhida. Sainz ainda remou como pôde, marcou a melhor volta, teve uma ligeira esperança com Zhou saindo da pista e estacionando sua Alfa ao lado da pista, o que poderia trazer um SC real, mas apenas o virtual veio, garantindo apenas um quinto lugar para Sainz, num bom esforço para o espanhol, mas que acabou longe de ser suficiente para a Ferrari, que viu a Red Bull abrir ainda mais no Mundial de Construtores. Para melhorar a vida de Verstappen, o terceiro colocado no campeonato estava num dia, digamos, letárgico. Pérez não foi bem nos treinos livres, deu um ‘oi’ na classificação, mas murchou de novo na corrida. Ultrapassado na largada por Hamilton, Pérez pouco trabalho deu ao inglês, mesmo com a Red Bull voando nas retas, mas o pior estava por vir. Tendo forçado seus pneus na luta com Sainz, Pérez acabou alcançado por Russell, começando uma briga ferrenha pelo último lugar do pódio, inclusive com um ligeiro toque entre eles na chicane da Mistral. Russell não gostou, mas seu troco viria mais tarde e de forma humilhante. Durante o SC virtual, Pérez controlou a distância para Russell, mas na bandeira verde, o mexicano deu uma cochilada inacreditável e George passou voando por ele. Um erro estúpido para um piloto tão experiente como Pérez, que passou as últimas três voltas caçando track limits de Russell e tentando manobras desesperadas para reverter a sua presepada.
No entanto, Russell segurou muito bem a posição e garantiu seu terceiro pódio no ano, o primeiro junto com Hamilton, que fez uma corrida sólida rumo ao melhor resultado do ano do experiente piloto, que completou 300 GP’s hoje, mostrando que a Mercedes está no caminho certo para conseguir pelo menos uma vitória em 2022. Se ainda falta um pouco de ritmo, principalmente na classificação, sobra confiabilidade e a Mercedes conta com dois pilotos incrivelmente fortes, com Hamilton conseguindo seu quarto pódio consecutivo e se aproximando de Russell no campeonato, após um início de ano claudicante. Na briga pelo resto, vitória da Alpine. Fernando Alonso conseguiu uma largada estupenda, pulando para quinto, mas ao ser ultrapassado por Russell, o espanhol não deu chances para a McLaren de Norris e garantiu um bom quinto lugar, contando com o abandono de Leclerc. Ocon também fez uma corrida boa, onde superou uma punição por tocar em Tsunoda no começo da prova e foi sétimo colocado. Empatadas no Mundial de Construtores antes da prova, Alpine e McLaren vinham para um tira-teima e em casa, os franceses se sobressaíram, com os carros laranjas ficando entre os bólidos azuis. Novamente Norris andou bem na frente de Ricciardo, que fez outra corrida opaca, mesmo que em 2023 provavelmente fique na McLaren (da F1). Na briga pelo último ponto, melhor para Stroll, que segurou a pressão de Vettel na última volta. Albon fez o que pôde com sua Williams, Gasly decepcionou em casa, enquanto Alfa Romeo e Haas decepcionaram, assim como sua fornecedora.
Psicologicamente, esse Grande Prêmio da França pode ter um significado e tanto para o campeonato, mesmo com praticamente metade das corridas a serem percorridas. Enquanto Verstappen mantém sua velocidade aliada com sua incrível maturidade e apoio da gigante Red Bull, seus rivais vão caindo um a um. Pérez teve uma corrida esquecível e seu vacilo nas últimas voltas lhe trarão um merecido puxão de orelha.
Já Leclerc… O que eu vou dizer lá em casa errando desse jeito Charles? Verstappen agradece.
Até a próxima
João Carlos Viana
2 Comments
JC,
A corrida estava boa até Leclerck rodar e bater.
Depôs disso não tenho medo de afirmar que ué foi a corrida mais chata da temporada até agora.
O que fizeram com a reta Mistral foi uma maldade sem tamanho.
E aquelas listras na área de escape é de um mal gosto também enorme.
É uma pena a França não ter um circuito decente. Concordo plenamente com vc.
Verstappen já é o virtual campeão deste ano.
E Leclerck não está pronto pra ser campeão como eu pensava.
Fernando Marques
Niterói RJ
Excelente matéria JC, parabéns