Pilotos Olímpicos – Parte 2

Privilégios de nossos dias
29/10/2021
Até o fim
04/11/2021

Seguimos em nossa saga, iniciada aqui: https://gptotal.com.br/pilotos-olimpicos-parte-1/

Contemporâneo dos nossos personagens já citados – Príncipe Bira, Roberto Mieres e Marquês de Portago –, houve outro que ainda sem chegar a participar na Fórmula 1, vale ser citado pelas similitudes que mostra com aqueles e que, muito provavelmente, o teriam também levado a competir na F1, se a morte não se houvesse cruzado no seu caminho. Trata-se do argentino Carlos Enrique Diaz Saenz-Valiente.

Ele também pertencia a uma família com vastos recursos econômicos, o que lhe permitia se dedicar à aventura, pois as atividades de risco eram as que mais lhe atraiam. Assim, além de exímio atirador, Carlos se dedicou ao automobilismo e à aviação (em 1949, tentaria ser o primeiro a voar desde Melbourne até Rio Gallegos, na Patagônia Argentina, através do Polo Sul).

Nas pistas, Carlos foi um dos gentleman driver mais aguerridos daqueles anos, correndo por puro diletantismo. Em 1939, participou no Grán Premio Internacional del Sur ” por uma aposta. Assim, após vencer a primeira das duas corridas, nem ficou para participar na segunda, voltando rapidamente a Buenos Aires para cobrar a aposta. Em 1940, participaria nos 1000 Km da Argentina, prova que chegou a liderar antes de abandonar. Depois da Segunda Guerra Mundial, volta à cena, mas como atirador: em 1947 seria campeão mundial em Estocolmo na modalidade de pistola, batendo o recorde de pontuação da prova. No ano seguinte, nos Jogos Olímpicos de Londres, Carlos conseguiria a medalha de prata e, nos de Helsinki, de 1952, seria 4º.

Entrementes, não havia a abandonado as pistas e, em 1953, venceria a prova de Touring Car em Buenos Aires, repetindo vitória ali mesmo no Premio de Primavera, classificando-se no 4º lugar do campeonato. Em 1954, Carlos compra um Ferrari 375 MM e suas vitórias o levariam a se consagrar campeão argentino de Sport Car naquela temporada.

Em 1955, novamente com Ferrari, começa a temporada vencendo os 1.000 Km de Buenos Aires e termina o ano como vice-campeão argentino. Ainda em 1955, Carlos competiria nos Jogos Pan-Americanos, conseguindo a medalha de ouro individual e batendo novamente o recorde mundial de pontos de sua especialidade. Ao todo, Carlos havia conseguido 14 vitórias nas 23 corridas disputadas naquelas temporadas e, o mais importante, chamar a atenção de Enzo Ferrari, que, no princípio de 1956, o convida a pilotar um de seus carros nas 12 Horas de Sebring, a disputar-se no mês de março. Infelizmente, em fevereiro, Carlos perderia a vida num acidente aéreo, com o avião que ele mesmo pilotava.

Naqueles anos 50s ainda teríamos o caso de um piloto norte-americano de pai sírio e mãe russa, batizado como Boris Said e que, como os anteriores pilotos, também cresceu em circunstâncias bastante favoráveis.

Boris sempre mostrou afeição pela mecânica e a competição automobilística, tanto que abandonou seus estudos na prestigiosa universidade de Princeton para satisfazer sua paixão. Assim, Boris começa a competir em corridas locais e subidas de montanha. Sua primeira aparição oficial registrada, quando tinha apenas 19 anos de idade, foi nas 12 horas de Vero Beach de 1952, tendo se inscrito como Bob Said, nome pelo qual passaria a ser conhecido desde então. Pouco depois, na Seneca Cup, em Watkins Glen, termina em 8º lugar, sendo o primeiro em sua categoria. Em 1953, sua participação mais importante foi nas 12 Horas de Sebring, onde termina na 14ª posição geral e 3ª na sua categoria.

Neste ano, ele decide competir na Europa e logo vence o GP de Rouen de Sport Car, sendo o primeiro norte-americano a ganhar uma prova na Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Em abril já havia vencido na Bergstrom AFB, em Austin, enquanto que, no fim do ano, também venceria o Anerley Trophy, no circuito de Crystal Palace, em Londres.

Bob continuaria competindo com alguns bons resultados nos Sport Car até que, em 1959, surge a ocasião para correr no GP dos Estados Unidos, em Sebring. Infelizmente, depois de haver largado na 13ª posição, um acidente logo o deixa fora da prova. Bob continuaria competindo até 1962 em eventos menores até que, em 1966, volta a correr nas 12 horas de Sebring, terminado em 15º.

Nesses anos, Said havia se aficionado ao bobsleigh e acabaria formando parte da equipe dos Estados Unidos nas Olimpíadas de Inverno de 1968 em Grenoble, onde terminariam na 14ª posição na modalidade de 4. Voltaria a participar nos Jogos de Sapporo em 1972, tanto na modalidade de 4 quanto na de 2, conseguindo a 10ª posição na primeira e a 18ª na segunda, com Bob sempre ao comando.

Para encontrar nosso próximo “olímpico”, devemos ir até a década dos anos 60s. Este seria o holandês Bernardus Marinus Ben Pon que, como os anteriores, também não precisou trabalhar para ganhar seu sustento. Se pai Bernardus, em 1947, foi o primeiro concessionário da VW fora da Alemanha e foi quem sugeriu à automobilística a fabricação de uma perua, pois viu que havia mercado para ela. Assim, nasceria a famosa Kombi, cujo sucesso tornaria a família milionária em apenas um par de anos.

Em 1948, Bernardus também se converte em concessionário da Porsche, o que permitiu ao filho ter acesso aos carros da marca. Assim Bernardus filho, em 1961, começa sua carreira com Porsche, e junto ao seu amigo Carel Godin de Beaufort, participam em varias corridas de Sport Car com boas classificações. Ben Pon inclusive venceria as 24 horas de Le Mans em sua classe, correndo com Herbert Linge.

De Beaufort participava na Fórmula 1 de maneira esporádica desde 1957 e a temporada de 1961 seria sua primeira completa, com a escuderia Maarsbergen. Em 1962, De Beaufort oferece a Ben Pon correr com o outro Porsche 547 da equipe [foto destaque], e Bernardus logo aceita. Infelizmente aquela seria uma corrida muito curta para Ben Pon, pois na segunda volta sofreria um chamativo acidente do qual, milagrosamente, resultaria ileso.

Bernardus, depois disso, jurou que nunca mais pilotaria um monoposto, dedicando-se unicamente aos Sport Car com os quais obteve bons resultados, como um segundo lugar em sua classe nas 24 horas de Le Mans de 1964 (8º na classificação geral). Nessa mesma temporada, seria terceiro nos 1000 km de Nurburgring e nos 1000 km de Spa, de 1965. Voltaria a Le Mans em 1967 com um Porsche 906 e, junto a Vic Elford, obteria outra vitoria em sua categoria (7º na classificação geral), para se retirar da competição pouco depois. Ao todo Ben Pon conseguiria 14 vitórias em 85 participações em Sport Car.

Uma vez fora das pistas, Ben Pon se dedica ao tiro ao prato e nas Olimpíadas de Munique de 1972, participaria representando a Holanda na especialidade. Contudo, sua participação foi bastante discreta, pois acabou na 31ª posição (Swinkels seria 35º).

Concluo esta série em nosso próximo encontro. Grande abraço

Manuel Blanco

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

1 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Manuel,

    bela história … belos videos … poder ver os Porsches nas pistas é deliciosamene sensacional … e o video na argentina … Ferraris e Carreteiras na pistas juntos …

    show de bola

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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