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Numa semana recheada de novidades ruins para a humanidade, a F1 iniciou a pré-temporada para a decantada revolução do seu regulamento técnico, adiada para 2022 por causa da pandemia. Pode-se afirmar que os carros da F1 foram virados de ponta cabeça e as equipes tiveram que praticamente sair de uma folha em branco, com a volta do efeito-solo após quarenta anos, os novos pneus com aro 18 e a diminuição da influência das asas dianteiras e traseiras na geração de downforce, diminuindo a turbulência dos carros para facilitar a perseguição dos carros e aumentar as ultrapassagens. Afinal, o show tem que ser bom para a Liberty Media continuar vendendo seu entretenimento.

Porém, o que não mudou nessa primeira semana em Barcelona, local favorito das equipes para fazerem seus testes pelas características da pista, foi a percepção das escuderias que os tempos aferidos pouco significaram para definir quem saiu na frente em 2022 com os novos regulamentos. Com carros completamente verdes (sem nenhuma referência à Aston Martin…) e muito a ser aprendido, as equipes investiram na quilometragem nos três dias de testes, até mesmo para que os pilotos tivessem suas primeiras impressões com um carro tão diferente do que estavam acostumados. E o sentimento foi que a FIA pode ter acertado no quesito turbulência dos carros da frente, com vários pilotos sentindo mais facilidade em perseguir seus adversários, contudo, os pilotos reclamaram de um carro mais lerdo pelo aumento de peso – 43 kg extras, pelo aumento do tamanho de rodas e pneus – e com um comportamento bem diferente na entrada de curva.

Outro ponto será o cuidado que os pilotos terão em atacar as zebras. Para quem assistiu aos carros de F1 com efeito-solo no início dos anos 1980, os pilotos tinham bastante cuidado em não quebrar o túnel do assoalho ou as ‘minissaias’. Pois bem, com a volta dos túneis do assoalho nos carros e a grande perda de downforce se ele for danificado, os pilotos de 2022 pensarão duas ou mais vezes antes de passar por cima de uma zebra e correr o risco de ter sua corrida seriamente prejudicada.

Uma novidade não tão bem-vinda dos novos carros é o chamado ‘Porpoising’. Numa cena repetida dos anos do efeito-solo, foram vistos carros ‘quicando’ em plena reta dos boxes de Barcelona com a abrupta perda de pressão aerodinâmica no assoalho. Uma cena nostálgica, porém perigosa, sem contar que não deve ser uma situação nada agradável para o piloto ver o carro pulando a mais de 300 km/h no final de uma reta. Equipes já correm atrás de resolver o problema não identificado nos simuladores. Por melhor que sejam as tecnologias de simulação, nada melhor do que o velho teste na pista.

E afinal, quem saiu na frente na temporada 2022? Perguntaria Godofredo, amigo do Lucas. Calma, Godofredo!

Mesmo Mercedes e Red Bull terem ficado com os melhores tempos da pré-temporada em Barcelona, não se pode cravar que as equipes dominantes de 2021 continuarão na frente com os novos regulamentos. Até porque foi a Ferrari quem mais se destacou nesses testes, com um carro consistente nas curvas e que acumulou a maior quilometragem nos três dias, abrindo um sorriso em Sainz, Leclerc e nos tifosi. Porém, não devemos nos esquecer de o que aconteceu em 2021. A Mercedes parecia em apuros na pré-temporada e após um trabalho incessante, Hamilton conseguiu uma vitória à fórceps na primeira corrida no Bahrein. “Tenho certeza de que a Mercedes estará dois ou três décimos na frente quando chegarmos no Bahrein”, disse o chefe ferrarista Mattia Binotto, colocando as sandálias da humildade.

Após um ensurdecedor silêncio nas redes sociais, Lewis Hamilton voltou falando em vir com força para tentar conquistar o seu oitavo título e marcou o tempo mais rápido dos testes com um pneu mais duro que o de George Russell. Após um ano tão brigado entre Mercedes e Red Bull, os holofotes ainda estão neles. O W13 e o RB18 são carros com visual e conceitos completamente diferentes. Enquanto a Mercedes foi conservadora, a Red Bull usou Adryan Newey para nos mostrar um carro com linhas agressivas. O atual campeão Max Verstappen gostou do novo carro, o que é um bom sinal para que a briga de 2021 continue acesa em 2022.

Outro time que se mostrou bastante forte foi a McLaren, constantemente entre as primeiras colocadas e sem quebras importantes, a ponto de George Russell dizer que os carros laranja estão também à frente, junto da Ferrari, na atual conjunção de forças da F1. Blefe?

Muitas equipes apostaram alto nessa temporada 2022 e abandonaram o desenvolvimento do carro de 2021, em especial no pelotão intermediário. A Alpine, que com a chegada do patrocinador BWT agora ostenta a curiosa combinação azul metálico com rosa, andou muito bem nos dois primeiros dias, mas sofreu uma quebra no terceiro dia que encerrou mais cedo a sessão em Barcelona. O mesmo aconteceu com a Aston Martin e seu belo carro verde, que mostrou mais performance do que quilometragem. A Alpha Tauri manteve as mesmas características dos seus carros antigos, onde a solidez e a consistências são suas marcas para aproveitar qualquer brecha dos times da frente e abocanhar pontos importantes, com a novidade de Tsunoda ter errado bem menos nesse ano. A Williams foi outra equipe que acumulou grande quilometragem, o mesmo não acontecendo com a Alfa Romeo. Única equipe a ter mudado todo o seu plantel de pilotos, a Alfa Romeo foi uma das que menos andou nos três dias e Bottas ficou com o penúltimo tempo do geral, enquanto o novato Guanyu Zhou cometeu alguns erros comuns para o seu noviciado, porém, foi mais rápido do que o esperado.

O pelotão intermediário se mostrou compacto nesses três dias, mas ninguém pareceu dar pinta de dar o pulo do gato que a Brawn deu em 2009.

Enquanto os carros rodavam em Barcelona, Vladimir Putin resolveu invadir a Ucrânia sem maiores motivos e muito menos com qual finalidade clara, chocando todo o mundo e causando uma apreensão gigante a uma humanidade ainda machucada por uma pandemia que sequer terminou. A F1 seguiu outros esportes e já cancelou (não de forma definitiva) o Grande Prêmio da Rússia. Porém, a maior afetada foi a Haas. Financiada por um grupo russo que faz questão que o carro corresse com a bandeira tricolor da Rússia, a Haas ficou numa sinuca de bico e no terceiro dia de testes pintou seu carro inteiramente de branco e tirou o patrocinador que praticamente garante sua sobrevivência na F1. Se já não bastasse os problemas que fizeram a Haas ser a equipe que menos andou em Barcelona, Günther Steiner ainda precisará lidar com esse abacaxi nas mãos, que pode até mesmo incluir a saída do irascível Nikita Mazepin da equipe. Apesar de algumas especulações em torno de Giovinazzi, o próprio Steiner já declarou: o primeiro da fila é Pietro Fittipaldi.

Tão irônico quanto uma equipe americana correr com patrocinadores russos, é a americaníssima F-Indy iniciar sua temporada nesse domingo em… St Petersburg!

Ao ser perguntado sobre a boa performance de Ferrari e McLaren, o veterano Helmut Marko respondeu com uma interrogação: Você sabe qual a quantidade de combustível eles tinham? Para quem estava em Barcelona, chamou atenção que o motor Ferrari era o que mais ‘falava alto’ na reta, enquanto os motores da Red Bull pareciam mais ‘comportados’. A Red Bull estaria escondendo o jogo, enquanto a Ferrari queria ser novamente a ‘campeã de inverno’? São essas questões que estão para serem respondidas.

Outro ponto foi que, se os dois primeiros dias de testes foram livres de problemas para as equipes, na sexta-feira houve cinco bandeiras vermelhas, com os carros de Alpine e Aston Martin enfrentando incêndios, sem contar as saídas de pista de Gasly e Zhou. Os carros ainda não estão no limite e os pilotos ainda tateiam um animal completamente diferente do que estavam acostumados. Talvez algumas respostas sejam dadas na próxima sessão de testes no Bahrein, ou até mesmo na classificação no mesmo local, no próximo dia 19 de março.

No entanto, o que esperamos mesmo é uma resposta para essa insanidade chamada guerra e que tudo se resolva de forma rápida no leste europeu. Isso é o que importa no momento.

Abraços!

João Carlos Viana

 

JC Viana
JC Viana
Engenheiro Mecânico, vê corridas desde que se entende por gente. Escreve sobre F1 no tempo livre e torce pelo Ceará Sporting Club em tempo integral.

3 Comments

  1. Fernando marques disse:

    JC,

    Se comparado com destes últimos anos … Concordo com toda certeza …

    Fernando Marques

  2. Fernando Marques disse:

    JC Viana,

    Eu estou com uma expectativa boa para a temporada de 2022.
    Vou torcer que pelo menos a Ferrari e Mclaren estejam melhores e no ponto para brigar de igual com a Mercedes e RBR. Os testes da pré temporada indicam alguma coisa nesse sentido.
    Gostei muito do tom do vermelho da Ferrari … mas acho que a Alfa Romeu mais uma vez a pintura mais bonita …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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