Um GP histórico pra chamar de seu

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Memória seletiva
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Finalmente algo grande aconteceu na temporada 2016.

Uau.

Eis que com a F1 voltando à Europa, Max Verstappen rasga todos os recordes da juventude pra se tornar, aos 18 anos e 228 dias, o mais breve em tudo: a liderar, a subir no pódio e, sobretudo, a vencer o GP da Espanha de 2016. Isso em seu primeiro contato com um novo carro, o que deixa o feito ainda mais notório!

A última vez que havíamos ficado boquiaberto com um desempenho excelente na Espanha foi em 2012, quando o ausente Pastor Maldonado ganhou sua única na F1. E um desempenho excelente vindo de um imberbe não acontece desde o já longínquo GP da Itália de 2008, quando Sebastian Vettel dominou uma corrida molhada em Monza a bordo de uma Toro Rosso com naturalidade assombrosa.

Da mesma forma que no passado, quando classifiquei o futuro tetra Vettel com “estirpe de campeão”, não tenho maiores dúvidas em classificar Max como um candidato natural às vitórias. Será campeão com o carro certo, o que pode acontecer múltiplas vezes em sua carreira futura, mais uma vez dependendo do equipamento em mãos.

Seu destino vitorioso só será interrompido ou diminuído caso permita que fatores externos e a inevitável pressão o afetem, ou que acabe se achando a última bolacha do pacote (sou paulista, falo bolacha, ok?).

Mas para quem teve nervos de titânio por uma corrida inteira contra o colega de equipe e dois experientes pilotos da Ferrari, uma premissa otimista é válida para o ultrajovem holandês. Jovem quanto? Ora, é suficiente dizer que em 2013 Max ainda estava no kart…

Estes elogios a Max chegam junto ao reconhecimento de que critiquei sim o swap entre ele e Daniil Kvyat, orquestrado pelo Dr. Helmut Marko. Pensei que era um movimento desnecessário, que queimava um piloto e botava pressão desnecessária em outro, pois a Red Bull está se tornando um moedouro de pilotos jovens.

O próprio Daniil vai ter que provar que não mergulhou numa espiral descendente rumo a uma dispensa ao fim do ano. Neste fim de semana em Barcelona, não apenas apanhou do agora companheiro Carlos Sainz Jr. (que largada o espanhol fez!), como terminou numa apagada 10ª posição, tomando volta de Verstappen. Sainz foi o 6º.

Dr. Marko, no fim das contas, sabia o que estava fazendo. Fez estrogonofe de Kvyat, mas deu a Max as ferramentas pra fazer um dia histórico na F1. Dobro minha língua.

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Mas há ainda tanta coisa a contar!

Assim que fui designado para escrever esta coluna e vi a pole de Lewis Hamilton no sábado, já estava imaginando as linhas gerais da corrida como “finalmente um Hamilton sem enfrentar problemas volta à normalidade e derrota Nico Rosberg”.

O script não só fugiu totalmente do que eu imaginava como se materializou numa das batidas que desde já vai para o rol das mais controvertidas de todos os tempos. Um clássico instantâneo.

Não foi um simples lance de corrida. Há vários fatores em jogo, há começar por ser este o quarto ano da dupla, terceiro em que disputam título, e por este ser o primeiro ano em que Rosberg apresenta uma grande vantagem, contra um Lewis que ainda não venceu.

Mal pude pensar comigo que a corrida iria esquentar com a vigorosa ultrapassagem de Nico por fora na tomada da primeira curva quando um incêndio de napalm tomou conta da corrida, materializado pelo choque entre os dois na curva 3.

Pelo lado de Lewis, claro que foi uma manobra estúpida, afinal, isso eliminou os dois carros da Mercedes e jogou fora uma virtual dobradinha. Já sabemos o que um Lewis “fora da casinha” pode fazer. Vide Canadá 2011.

Ele perdeu a liderança numa manobra belíssima de Rosberg na tomada da primeira curva. E quis resolver tudo duas curvas depois.

Por outro lado, Nico Rosberg estava reconhecidamente num modo de mapeamento de motor inadequado para o andamento da corrida. Na largada deu tudo certo, mas em seguida, era preciso ‘chavear’ o mapeamento para o modo normal. E isso foi feito justamente na curva 3, onde ele perdeu velocidade – segundo a FIA, 17 km/h.

Perder velocidade, entretanto, não significa ter que dar passagem. Nico tinha todo o direito de fechar a porta. Às vezes parece que as pessoas se esquecem que isso é corrida, e que se defender está nas regras. Dito isso, fechar a porta não significa um convite a bater. É tarefa de quem está atrás evitar o choque.

Como em tudo na F1, o lance ocorreu de maneira rápida. Lewis tinha dois caminhos para tentar passagem e escolheu o da direita. A ocorrência foi classificada pelos comissários de prova como incidente de corrida – um raro rompante de lucidez dentro de um universo em que tudo tem que resultar em punição a um culpado de ocasião.

Sorte para Lewis. Afinal, a próxima corrida é em Mônaco. De todas as pistas pra ganhar punição, essa é indubitavelmente a mais encardida.

Pago tributo ao meu maninho Márcio Madeira, que previu esse choque na coluna anterior, ao responder ao amigo e sempre presente leitor Mauro Santana, habitante da República de Curitiba, que sentia cheiro de acidente entre companheiros. E trocando mensagens com o Mário Salustiano, meu querido amigo soltou uma frase polêmica e que faz todo o sentido: esses dois estavam precisando de uma batida entre eles.

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A F1 não é feita só de novidade. Também é feita de repetições. Os fiascos da McLaren se reciclam corrida após corrida, com pacotes ‘revolucionários’ que conseguem manter o time na mediocridade de sempre.

Para coroar mais um fim de semana frustrante, Jenson Button não conseguiu nada melhor que um 9º lugar, e o piloto da casa, Fernando Alonso, abandonou exatamente no mesmo lugar onde em 2015, durante testes, sofreu aquele acidente esquisito em que deve ter tomado um termendo choque elétrico do carro. Pelo menos, dessa vez saiu andando.

A McLaren, portanto, ‘evolui’…

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Com os prateados fora, o único lamento é que o duelo entre Red Bull e Ferrari tenha acontecido justamente em Barcelona, onde ultrapassar é mais difícil do que provar a inocência de Eduardo Cunha.

Nesse contexto, o que se teve foi uma guerra fria (e até certo ponto enfadonha) entre as duas duplas, muito mais estratégica do que de ação. Por um lado, entre os estrategistas de três pits, Sebastian Vettel conseguiu superar Daniel Ricciardo, que de tanto atacar o alemão, literalmente acabou com os pneus.

Mas por outro, a estratégia vencedora do dia, executada pela maioria, estava com quem fez um pit a menos. E nessa, mérito mais uma vez por Max ter conseguido não apenas se manter à frente de Kimi Räikkönen, como administrar um stint de 32 voltas com pneus médios – Ricciardo acabou com os seus em 22.

Finalmente, depois de um começo morno, algo grande aconteceu na temporada 2016 a ponto da etapa da Espanha ser um GP histórico pra chamar de seu.

Foi estranho e, ao mesmo tempo, gratificante ouvir pela primeira vez o hino holandês na F1.

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Como já cantei, a próxima corrida é em Mônaco. No mesmo dia das sempre incríveis 500 Milhas de Indianápolis, que neste ano chega à sua 100ª edição. É o fim de semana favorito do entusiasta do esporte a motor.

Abração!
Lucas Giavoni

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

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