Nem tudo são flores

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Voltamos de férias, fomos pra SPA e não vimos corrida. Quanta frustração!

Nessa era pandêmica, mais um item da lista de coisas bizarras que aconteceram está marcado. Na velocidade dos acontecimentos recentes, não há espaço para lamúrias e já chegamos ao fim de semana do retorno da Holanda ao calendário da Formula 1.

O que temos em campo para essa segunda metade do campeonato?

Obviamente o terreno da praia holandesa está preparado para mais uma festa laranja. Max vem de uma pole-position e uma vitória. Ele, juntamente com sua equipe Red Bull e Perez, conseguiram e esse ano a façanha de vencer seis provas na era híbrida. Não vamos esconder os fatos, um milagre!

Gostando ou não de Max, achando Horner e Marko idiotas ou não, sendo fã de Hamilton ou não, é impossível, em qualquer cenário, negar o favoritismo absoluto da Red Bull nessa reta final de temporada.

Max, nem com muita má vontade na avaliação, pode ser considerado um piloto mediano. É um piloto forte e tem o carro certo nas mãos pra, quem sabe, ter a oportunidade de uma vida. Sua frieza, traduzida muitas vezes como rispidez, mostram foco total nessa oportunidade que não pode escapar por entre os dedos.

Correndo em casa, seu único desafio é controlar suas emoções para não exceder os limites do carro, das suas habilidades e da pista.

Max é um talento nato. Mas não custava nada uma assessoria para torná-lo menos “antipático” no trato público.

Não confundir aqui com pilotos pasteurizados pela lógica da mídia. Pode continuar falando o que pensa, mas um pouco de leveza na fala, cuidado com os fãs do esporte e distância das pautas sobre regulamento podem ajudar com a imagem do jovem holandês.

Será que Nelson Piquet não pode ajudar?

Pois é, pessoal, já tivemos 17 provas na Holanda. Claramente o leitor mais atento do GPTotal tem algumas boas histórias para contar. Faz tempo! Entre 1952 e 1985, o circuito de Zandvoort nos presenteou com 30 corridas.

Caramba, 30 corridas e estavam fora do calendário. Dando espaço pra Coréia do Sul? É duro de entender. Zandvoort não deixou de receber o automobilismo. Tem sido figurinha constante nos calendários da DTM, F4, WTCC e F3.

Para o retorno da F1, previsto para 2020 e atrapalhado pela pandemia, o circuito precisaria de uma reforma. A F1 pediu pra estender a reta principal, criar mais pontos de ultrapassagem. Esse pedido não poderia ser atendido porque o circuito é cercado por uma reserva natural, é impossível ampliar seu espaço em um metro sequer. Os diretores do circuito ofereceram outra ideia: curvas inclinadas!

Os primeiros estudos foram feitos e a principal alteração deveria ocorrer na curva que antecede a reta. Na versão original do traçado, não inclinado, as forças laterais do F1 passariam de 2.5G, impedindo aceleração plena e a abertura do DRS. Teria que ser contornada de forma gentil. A proposta foi de elevar a curva com uma inclinação de 18 graus (similar a a inclinação da linha de chegada de Daytona, por exemplo), que permite mais forças verticais atuando no carro e faz com que ela seja considera uma extensão da reta principal. Serão quase 1000 metros de aceleração plena até a famosa curva Tarzan, ponto principal de ultrapassagem.

Não dá pra esperar muitas ultrapassagens no restante do circuito. Mas a sensação do pilotos deve ser de estar numa montanha-russa, com muitas mudanças rápidas de direção e inclinação. Com áreas de escape “tradicionais” (leia-se caixa de brita, grama e muro), podemos ter bastante gente se atrapalhando e criando alternativas para a prova.

Durante esses 30 anos de F1 em Zandvoort, só vitórias de feras: Lauda, Prost, Hunt, Stewart, Andretti e claro, o rei, Jim Clark liderando o certame com 4 vitórias. Se você ligou os pontos, claro que Clark também é o dono do maior número de voltas mais rápidas, totalizando 5.

Vamos dar uma espiada em como foi no passado?

O chefe da Pirelli, Mario Isola, disse que não tem muitas informações sobre Zandvoort. Justificativa: Pandemia, nesse período, sem corridas, é difícil escapar da quarentena obrigatória.

Argumentação pobre. Da Pirelli e da F1 (por não rebater). O circuito era pra ter entrado no calendário no ano passado. Não entrou. Em 12 meses não deu pra mandar um time pra verificar o asfalto por conta da pandemia e da quarentena holandesa?

Fórmula 1, onde está o discurso de “segurança em primeiro lugar”?

Mario leva à Holanda os pneus mais duros da gama disponível. Diz ele que nada especial está planejado, já que os pneus desse ano são mais resistentes dos que os de 2020. Mesmo com a nova curva inclinada que precede a reta principal, vai dar tudo certo.

Resumindo: oremos!

São só 15 minutinhos de um belo documentário sobre a reconstrução da pista para receber a F1, vale o play.

Para não faltar noticia de bastidores, Raikonnen resolveu anunciar sua aposentadoria da F1 na quarta-feira.

O campeão mundial aproveitará as próximas corridas para se despedir desse esporte. Deixará saudades, pela sua personalidade impar e pela sua inquestionável velocidade.

Além do icônico título de 2007 , Kimi proporcionou aos fãs grandes momentos da fórmula. Inesquecivelmente, impossível de deixar de qualquer lista sobre grandes vitórias da F1, o GP do Japão de 2005. Um “thriller” de suspense e perseguição avassalador. Kimi estava no seu ápice!

Com poucas chances de aumentar seus recordes na categoria, Raikkonen deixa sua marca como o 3º da história em número de voltas mais rápidas (atrás de Hamilton e Schumacher somente), o mais longevo corredor da categoria em número absoluto de corridas e o como o 5º piloto mais presente em pódios da F1.

Alonso vai superar o recorde largadas na F1 de Kimi Raikkonen em 2022. Está em boas mãos, ao menos!

Apesar da liderança no campeonato – minúscula – Hamilton apresenta na Holanda o trabalho dele e do seu time feito no verão para o restante da temporada. É hora de medir as forças disponíveis para tentar manter-se vivo na batalha do título ou somente se preparar para o ano de 2022. Seu escudeiro estará presente e mais fiel do que nunca. Aguardando a chance de anunciar o novos passos do seu futuro, Bottas está integralmente a disposição de Hamilton para ajudar na luta do título.

Engana-se quem pensa que na garagem da Red Bull as armas são diferentes. Perez garantiu mais um ano em um carro de ponta e, certamente, também está integralmente a disposição de Max para ajudar na luta do título. Estão todos motivadíssimos com a chance única de derrubar a hegemonia da Mercedes na era Hibrida. Os fundos financeiros da RedBull também parecem infinitos (apesar da limitação de gastos). Continuam a desenvolver o carro de 2021, garantem que o projeto de 2022 não será afetado e ainda tem que assumir o projeto de motores da Honda.

Obviamente a briga pelo terceiro posto continua agitadíssima. Ferrari e McLaren estão em um bonito duelo, com grandes atuações de Lando Norris. Que geração que vem pela frente, não? Norris, Leclerc e Sainz com grandes atuações. Se pensarmos em carros “nivelados” (ao menos por condições adversas de pista), ainda temos Russel, Ocon e Gasly!

Estamos numa encruzilhada de incertezas desse campeonato. Hungria uma prova caótica, 3 semanas de pausa, retornamos para Spa para uma “não-corrida”.

Quem está na frente? Quem tem as cartas na manga para a segunda metade da temporada? Nem tudo são flores nos campos holandeses para esse final-de-semana, Zandvoort volta para o calendário da F1 com a certeza que teremos muitas emoções e uma boa quantidade de respostas para nossas perguntas. A disputa entre Max e Hamilton chegará ao seu ápice nesse fim-de-semana.

Abraços
Flaviz

Flaviz Guerra
Flaviz Guerra
Apaixonado por automobilismo de todos os tipos, colabora com o GPTotal desde 2004 com sua visão sobre a temporada da F1.

2 Comments

  1. Fernando marques disse:

    Penso também que em 1972, Zandoort não fez parte do calendário, com a Lotus que tinha nas mãos as chances de vitória do Emerson eram grandes.

    Fernando Marques

  2. Fernando marques disse:

    Flávia,

    Ansioso por rever a fórmula 1 em Zandoort.
    Entre os grandes vencedores lembro de que Nelson Piquet venceu em 1980. Foi a sua segunda vitória na fórmula 1. Nelson por duas vezes foi pole.
    E foi lá também, quando liderava a corrida, que foi jogado no pra fora da pista após uma desastrada tentativa de ultrapassagem do Prost, da qual Piquet garante ter sido fundamental para conquistar o título em 1983.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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