Foto-Legendas – As joias de Mauro

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Que Adrian Newey que nada. Bom mesmo era Mauro Forghieri, falecido dia 2 de novembro, aos 87 anos.

Engenheiro e chefe de equipe da Ferrari entre 1962 e 1987, Mauro – com o pé sobre o pneu na foto acima – venceu, só na Fórmula 1, entre Mundiais de Pilotos e Construtores, onze títulos. Mais que ele, só Ross Brawn e próprio Newey com a diferença que os dois ingleses encabeçaram equipes com centenas de engenheiros e se ocuparam exclusivamente de chassi e aerodinâmica enquanto Mauro liderava uma equipe de uns cinco ou dez engenheiros, no máximo, que eram responsáveis pelo projeto integral dos carros, inclusive motores e câmbios e não só na F1, mas também nas categorias Sport-Protótipos (que, até 1973, era tão importante para a Ferrari quanto a F1), Fórmula 2, Can-Am e GT.

Mauro não foi um inovador radical como o foi em seu tempo Colin Chapman, mas foi ele quem trouxe para a F1 a injeção direta de combustível, o aerofólio móvel (em 68!) e o câmbio transversal. Mauro nasceu em 35 e passou a trabalhar na Ferrari tão logo se formou, em 60. Lá, trabalhou durante algum tempo com a velha guarda da engenharia da casa que, em 62, se demitiu em bloco para migrar para a equipe ATS (que naufragou ruidosamente logo depois…). Enzo Ferrari, num gesto que lhe era típico, nomeou Mauro chefe da engenharia da equipe, com responsabilidades que se estendiam também às pistas e isso valia não só para os GPs como também para o Mundial de Marcas, disputado em provas de 1000 km, 6, 12 ou 24 horas, inclusive Le Mans, que a Ferrari ganhou, com Mauro, entre 1962 e 1965.

Imagino que, por 25 anos, Mauro trabalhou sete dias por semana, doze ou mais horas por dia. Os carros inesquecíveis – seja pela beleza, seja pelo desempenho, seja por ambos – que nasceram do trabalho de Mauro são quase incontáveis. Seu brilho e capacidade de trabalho não têm equivalente na história do automobilismo.

A seguir, em memória de Mauro, alinho alguns dos seus carros mais belos e vencedores.

FERRARI 158 (64)

O primeiro Mundial na F1 de Mauro veio com este modelo singelo, de aparência inofensiva, mas que, nas mãos de John Surtees, foi forte o bastante pra bater Jim Clark e seu Lotus e Graham Hill e seu BRM no campeonato de 1964, um dos mais disputados – e controversos – de todos os tempos. As cores azul e branco são uma longa história…

FERRARI 330P4 (67)

Uma família com quatro ou cinco gerações de alguns dos mais belos e vencedores sport-protótipos jamais construídos. Usando motores de diferentes arquiteturas e capacidades cúbicas, estes carros foram o centro da categoria que tinha em Le Mans o seu ponto mais alto, tendo os Ford GT40 como maiores adversários.

Na foto acima, o modelo P4, o preferido de Mauro, que encarou os Ford em 67, conseguindo os três primeiros lugares em Daytona e depois sendo batidos em Le Mans.

FERRARI 612 (67)

Tentativa malsucedida da Ferrari em desembarcar no campeonato americano-canadense. Carro belíssimo, mas que não foi páreo para os McLaren de Bruce e Hulme.

FERRARI DINO 166 F2 (67/68)

Em plena guerra com a Ford em Le Mans, Enzo pede a Mauro e equipe a criação deste modelo, para a F2, marcando o casamento da Ferrari com a Fiat. Equipado com um motor V6 de 1 600 cilindradas, teve pilotos ilustres ao volante, como Chris Amon, Jacky Ickx, Derek Bell, Tino Brambilla e Andrea de Adamich, mas escasso sucesso.

O “Dino” era uma homenagem ao filho de Enzo, falecido ainda jovem e descrito como um engenheiro brilhante.

FERRARI 312 (68)

Um carro problemático – muitas quebras, uma única vitória, no GP da França –, mas marcante pelo aerofólio apresentado em Spa e que daria início à pesquisa aerodinâmica que moldaria a F1 do futuro e também pelo uso do motor três litros boxer de doze cilindros, criação de Mauro, que renderia à equipe, na F1 e no Mundial de Marcas, algumas das suas maiores vitórias. Este motor venceria corridas até o final dos anos 70 e só foi abandonado quando do advento dos motores turbo.

É o carro que aparece na foto de abertura desta coluna. Na foto acima, o modelo é pilotado por Chris Amon.

FERRARI 312P (69)

Herdeiro da beleza de seus antecessores, este modelo marcou uma renovação na abordagem do campeonato de Sport-Protótipos pela Ferrari, usando o mesmo motor boxer de doze cilindros da F1. Demoraria a produzir resultados – eles só chegariam três anos mais tarde…

FERRARI 512M (70/71)

O monstro de Mauro, com motor de cinco litros, que teve a ingrata missão de combater os Porsche 917. Perdeu para os alemães na maioria dos confrontos. Ficou a beleza do carro e algumas vitórias. Na foto, o modelo com as cores da equipe Penske.

FERRARI 312B2 (71/72)

Ainda mais belo que seu antecessor, com os escapamentos agora na parte inferior do motor, este modelo correu entre 1971 e 1972. As vitórias na F1 voltaram, mas ainda insuficientes para derrotar os garagistas ingleses, como Enzo os chamava.

Este carro ainda tinha chassi tubular, tecnologia já superada pelos monocoques. Esta técnica construtiva só dobraria a teimosia de Enzo em 74, abrindo um período de vitórias extraordinárias para a equipe, tendo Niki Lauda como piloto principal e Luca de Montezemolo como chefe de equipe.

FERRARI 312B3 (72)

Este carro nunca disputou um GP. Recebeu o apelido debochado de Spazzaneve (Limpa-neve) e foi a base de desenvolvimento da futura geração da família 312, que traria tantas vitórias e títulos à Ferrari, a partir de 74.

FERRARI 312PB (72)

O último sport-protótipo da Ferrari, equipado com o motor boxer, o mesmo usado na Fórmula 1. Um carro belíssimo e extraordinariamente vencedor entre 72 e 73, ainda que lhe falte a vitória nas 24 Horas de Le Mans.

FERRARI 312T (75)

Ao motor boxer e ao chassi monocoque, junta-se o câmbio transversal e um refinamento aerodinâmico inédito na categoria.

Não é especialmente belo, mas este carro e seus descendente são indiscutivelmente um dos pontos altos da F1. As vitórias são frequentes (Mundial em 75 e 77 com Niki Lauda) e coincidem com a decisão da Ferrari de se concentrar na F1. Mauro talvez tenha conseguido passar um ou outro final de semana em casa.

FERRARI 312T4 (79)

Tudo o que foi dito acima mais o efeito solo, um grande desafio de engenharia para Mauro & equipe, pois o motor boxer, mais largo que os motores em V, não fora concebido para conviver com os canais laterais que geravam o efeito. Jody Scheckter e Gilles Villeneuve concluem o Mundial da temporada em 1º e 2º lugares.

FERRARI 126 CK (81)

E chegam os motores turbo e Mauro tem de rever todos os seus conceitos.

Ele foi o primeiro engenheiro a montar uma equação vencedora na F1, deixando para trás a Renault, que havia detonado a opção pelos turbo, em 77. Os carros deste período são tão brutais em potência quanto belos.

FERRARI 126 C2 (82)

Lindo carro, trágico retrospecto. Foi nele que Villeneuve perdeu a vida, nos treinos para o GP da Bélgica de 82, e Didier Pironi acidentou-se, também durante os treinos, no GP da Alemanha, o que significou o encerramento da sua carreira na categoria.

Não fossem as tragédias, ninguém duvidaria que o 126C2 seria o carro do campeão da temporada. Mesmo assim, garantiu o Mundial de Construtores para a Ferrari.

Esta homenagem a Mauro Forguieri é baseada na coluna que publiquei em 17 de maio de 2011, e que pode ser lida aqui: https://gptotal.com.br/mauro/

Para mais Foto-legendas

Viva Chaparral – https://gptotal.com.br/foto-legendas-viva-chaparral/

Viva Can-Am – https://gptotal.com.br/foto-legendas-viva-canam/

Le Mans, desde 2000 – https://gptotal.com.br/foto-legendas-le-mans-desde-2000/

Le Mans, 81 a 99 – https://gptotal.com.br/foto-legendas-le-mans-81-a-99/

Le Mans – Os anos 70: https://gptotal.com.br/foto-legendas-le-mans-anos-70/

A saga do Ford GT40 em Le Mans: https://gptotal.com.br/foto-legendas-a-saga-do-ford-gt-40-em-le-mans/

As joias da Ferrari em Le Mans https://gptotal.com.br/foto-legendas-as-joias-da-ferrari-em-le-mans/

O Porsche 917 https://gptotal.com.br/foto-legendas-porsche-917/

Jim Clark https://gptotal.com.br/foto-legendas-jim-clark/

Legendas 1 https://gptotal.com.br/foto-legendas-1/

 

 

 

 

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

2 Comments

  1. Fernando marques disse:

    Edu,

    Bela homenagem do GP Total.
    Mauro Forguieri é um dos ícones da formula 1.
    As belas ferraria das fotos são provas do talento do Mauro

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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