Mike Hawthorn, o segundo mais discreto campeão da Fórmula 1 (https://gptotal.com.br/foto-legendas-os-f1-de-phil-hill/) foi o primeiro inglês a se destacar na categoria, até então monopolizada por carros e pilotos italianos e por um certo Juan Manuel Fangio.
Hawthorn era filho do dono de uma oficina especializada em carros esporte. Estreou no automobilismo em 1950 e, dois anos mais tarde, participava de seu primeiro GP, aos 23 anos de idade, um fato raro numa época, dominada por pilotos mais velhos. Em seu primeiro GP, em Spa 52, Hawthorn tinha à sua frente, no grid, Nino Farina, primeiro campeão da F1, e Piero Taruffi, ambos com 46 anos, e Alberto Ascari, 34 anos, futuro campeão das temporadas 52 e 53.
Hawthorn sempre se declarou, por escolha própria, um gentlemen drive. Normalmente só recebia os prêmios de largada, não tendo contratos de valores expressivos com as equipes para as quais corria.
A seguir, uma breve lembrança da carreira do inglês e dos F1 que pilotou.
1952
Hawthorn estreou na F1 com um Cooper T20 (foto acima) de sua propriedade, um dos carros mais desengonçados jamais vistos na categoria. Era equipado com um motor Bristol, de seis cilindros em linha. Os únicos resultados a serem louvados do modelo foram obtidos por Hawthorn: 4º em Spa e Holanda, 3º em Silverstone.
Mesmo tendo participado de cinco dos sete GPs do ano, Hawthorn termina o Mundial em 5º, com dez pontos. Seus bons resultados lhe rendem um convite para testar um Ferrari. Ele o faz, bate o carro, mas é confirmado na equipe para a temporada seguinte.
1953
O domínio do Ferrari 500 já observado em 52 segue firme nesta temporada, com Ascari, campeão no ano anterior, vencendo cinco dos oito GPs do ano e chegando facilmente ao bicampeonato.
Hawthorn aproveita a superioridade do carro: estreia na Argentina, terminando em 4º lugar, em meio ao caos; após invasão da pista, nove espectadores morrem atropelados pelo carro de Farina.
O inglês repete a colocação no GP seguinte, na Holanda, é 6º em Spa e vence em Reims, batendo por um segundo ninguém menos do que Juan Manuel Fangio, a bordo de um Maserati (fotos acima e abaixo).
A disputa pela liderança entre eles a partir da metade da prova é épica, tendo trocado de posição onze vezes. Hawthorn descreve a disputa em seu livro Challenge Me the Race: “descíamos a reta gritando, lado a lado, a toda velocidade, sorrindo um para o outro, enquanto eu me agachava no cockpit, tentando economizar cada grama de resistência do vento. Estávamos a apenas alguns centímetros de distância. Eu conseguia ver claramente o conta-giros no cockpit do Fangio”. Não sem motivo, Reims 55 é definida por muitos como “A Corrida do Século”.
Hawthorn pontua nos quatro GPs seguintes, terminando o ano em 4º no Mundial, somando 27 pontos, que viram 19 depois dos descartes.
1954
Hawthorn começa o ano acidentando-se numa prova extracampeonato, na qual sofre queimaduras de alguma gravidade. Meses depois perde o pai, vítima de um acidente de automóvel e tem de assumir a gestão da oficina da família.
Na F1, este é o ano da chegada da Mercedes, a partir do GP da França. Estabelece-se, então, uma tirania alemã, conduzida pelas mãos de Fangio. Hawthorn e Froilan Gonzalez, seu companheiro na Ferrari, ficam com as sobras. O inglês consegue dois 2os lugares (Inglaterra e Monza) e a vitória no GP final, na Espanha.
Ele pilotará Ferrari 553 (foto acima), usado por ele na Reims e Espanha, e o modelo 625 (foto abaixo) nas demais provas. Ambos os são equipados com motores de quatro cilindros em linha.
No final do ano, Hawthorn soma 24 pontos, um a menos que Gonzalez, ante 57 pontos totais de Fangio, que viram 42 após os descartes.
Terminado o campeonato, Hawthorn se submente a uma cirurgia para extrair um dos rins.
1955
O fato de Hawthorn pilotar um Ferrari desagradava muitos ingleses. Houve quem dissesse: melhor perder honradamente em um carro inglês do que se vender por uma equipe estrangeira. Era uma época ainda muito chauvinista (que bom que hoje já não é bem assim – só que não…).
O fato é que estas pressões surtiram efeito e Hawthorn aceita pilotar pela Vanwall, equipe inglesa que estreara no ano anterior. Ele disputa dois GPs, Mônaco e Spa, com o modelo VW1 (foto acima), abandonando em ambas as provas.
Uma semana depois do GP da Bélgica, Hawthorn torna-se pivô do mais terrível acidente da história do automobilismo, durante as 24 Horas de Le Mans, com 84 mortos e mais de uma centena de feridos (https://gptotal.com.br/22707-2/ e https://gptotal.com.br/o-pior-do-erros/).
Apesar de ter vencido a prova, Hawthorn fica bastante abalado com o acidente, que gerou o cancelamento de vários GPs. Ele retorna à Ferrari, competindo com os modelos 555 na Holanda (foto acima) e Monza e 625, na Inglaterra.
A soma dos problemas pessoais, de seus carros, mais a continuidade do domínio total da Mercedes, com cinco vitórias em seis GPs, resultando em zero pontos para Hawthorn no final do ano.
1956
De novo, a temporada é marcada por uma série de acidentes que, por sorte, não têm maiores consequências para Hawthorn.
Ele vai participar de apenas três GPs ao longo do ano, com um carro diferente em cada um deles: o Maserati 250F na Argentina (foto acima), onde termina em 4º, o lindo BRM P25 em Mônaco e o Vanwall VW2 em Reims (fotos abaixo).
Ainda como reflexo dos acontecimentos em Le Mans em 55, os organizadores do GP da Alemanha negam inscrição à Hawthorn.
No final do ano, ele é 12º no Mundial, apenas com os pontos na Argentina.
1957
Hawthorn volta à Ferrari, mas não encontra carros capazes de bater Fangio e seu Maserati, que vencem quatro dos cinco primeiros GPs do ano. Os outros três GPs do ano são vencidos por carros da Vanwall, com Moss e Tony Brooks. A Hawthorn restam pódios na Inglaterra e Nurburgring e mais um 4º, na França.
Ele compete nos dois primeiros GPs do ano com o modelo D50, criado pela Lancia e doado à Ferrari, que consegue com ele o título de 56. Depois, pilota o modelo 801, ambos equipados com o mesmo motor, um V8.
Na foto acima, o D50 de Hawthorn aparece por cima do carro do companheiro de equipe, Peter Collins, número 26, em Mônaco. Por pouco os dois não foram para dentro d’água. O carro 34 é o Maserati de Jean Behra.
Foi com o modelo 801 (foto abaixo) que Hawthorn e Collins foram batidos por Fangio e seu Maserati em Nurburgring, descrita por muita gente com o maior GP de todos os tempos.
1958
O título mundial de Hawthorn vem ao final de um campeonato sangrento, dominado pela Vanwall, que venceu seis dos dez GPs do ano, quatro deles com Stirling Moss, ante apenas uma vitória de Hawthorn, em Reims, a corrida na qual Luigi Musso, seu companheiro na Ferrari, perde a vida. Este é também o GP de despedida de Fangio.
Menos de um mês depois, Collins, o amigo mais próximo de Hawthorn, morre durante o GP em Nurburgring. Haveria ainda mais uma morte, no último GP do ano, no Marrocos, de Stuart Lewis-Evans.
Hawthorn pilota o Ferrari D246 (foto acima, um modelo restaurado, e na abertura desta coluna) e vence o Mundial graças à consistência dos seus resultados: ele pontuou em todos os GPs menos em Nurburgring, onde largou na pole, mas teve de abandonar quando corria em 2º.
Pesou também no título de Hawthorn o cavalheirismo de Moss, que com seu depoimento, anulou a decisão dos organizadores do GP de Portugal de desclassificar Hawthorn, por ter, pretensamente, dado ré em seu carro depois de rodar.
Ao final da temporada, Hawthorn tem 42 pontos válidos (49 antes dos descartes), um a mais do que Moss. Imediatamente, o campeão anuncia que abandona o automobilismo.
Três meses mais tarde, em 22 de janeiro de 1959, Hawthorn morre em um acidente automobilístico em uma estrada inglesa. Tinha 29 anos.
Boa semana a todos
Edu
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