Foto-legendas – Os F1 de Phil Hill

Dezessete pilotos venceram um único Mundial de F1 até hoje. Entre eles, o americano Phil Hill disputa centímetro a centímetro com o inglês Mike Hawthorn o título de campeão mais modesto da história da categoria.

Eles venceram o Mundial de 61 e 58, respectivamente; largaram em 47 e 45 GPs, marcaram três vitórias e seis melhores voltas cada um, seis poles para Hawthorn quatro para Hill, o inglês levando pequena vantagem no número de pódios, 18 a 16.

Outras duas semelhanças: Hawthorn abandonou o automobilismo depois do seu título e Hill, apesar de seguir ativo, teve apenas mais três resultados notáveis na F1. A outra semelhança é que ambos conquistaram seus Mundiais em circunstâncias extremas, com apenas um ponto válido de vantagem sobre o vice-campeão, Stirling Moss em 58, Wolfang von Trips em 61.

Em 58, o título foi decidido por um gesto nobre de Moss, que depôs em favor de Hawthorn, impedindo que ele fosse desclassificado de seu 2º lugar no GP de Portugal, o penúltimo da temporada. Já o título de Hill ficou marcado pela morte de von Trips, na segunda volta de Monza, penúltima prova do ano. O alemão marcou a pole, atrasou-se na largada e envolveu-se num terrível acidente com Jim Clark na tomada da Parabólica, voando sobre a plateia e causando a morte de mais 15 pessoas.

A comparativa modéstia nos resultados de Hill na F1, porém, não pode ser vista separadamente do que ele conseguiu na categoria Sport-Protótipos, naquela época tão ou até mais valorizada do que a F1. Hill venceu nada menos do que três vezes as 24 Horas de Le Mans (58, 61 e 62, sempre num Ferrari em dupla com Olivier Gendebian), três vezes as 12 Horas de Sebring (58, 59 e 61, também com Ferrari, equipe à qual estava ligado desde 55) e duas vezes os 1000 km Nürburgring (62, com Ferrari, e 66, com Chaparral), entre outras vitórias.

Hill tinha uma personalidade peculiar. Era solitário, extremamente concentrado na carreira, mas não a amava. “As corridas trazem à tona o que há de pior em mim”, disse. “Sem elas, não sei que tipo de pessoa eu poderia ter me tornado. Mas não tenho certeza se gosto da pessoa que sou agora. As corridas me tornam egoísta, irritável, defensivo. Se eu pudesse sair deste esporte com algum ego restante, eu sairia”.

No entanto, não conseguia abandonar as pistas. “O stress da inatividade era pior do que o stress de dirigir. Fui compelido a correr novamente”.

A seguir, uma breve lembrança dos F1 pilotados por Hill ao longo da sua carreira.

1958

A estreia de Hill na F1 se deu duas semanas depois de vencer em Le Mans (mais sobre as vitórias de Hill na clássica francesa aqui: As joias da Ferrari em Le Mans), uma prova notável pelas 15 horas em que foi disputada debaixo de chuva.

Hill tinha 31 anos ao estrear no GP da França, famoso por ser a última corrida de Juan Manuel Fangio e também pela morte de Luigi Musso. Hill pilotou um Maserati 250F (foto acima), igual ao do Maestro, terminando em 7º.

Três GPs depois, em Portugal – o GP do gesto nobre de Moss –, Hill passou à Ferrari, na vaga de Musso, mas não largou. A estreia na equipe se deu em Monza – onde liderou as quatro primeiras voltas –, seguido pelo GP do Marrocos. Em ambas Hill terminou em 3º, pilotando um Ferrari D246, com um motor V6 dianteiro (foto que abre esta coluna).

1959 + 1960

De novo com o Ferrari D246, Hill tem de enfrentar o Cooper de motor traseiro pilotado por Jack Brabham. Hill faz o que pode, pontuando em quatro dos oito GPs, mas é superado na Ferrari por Tony Brooks, que ganha duas corridas. No final do ano, Hill é o quarto no Mundial.

Todas os GPs da temporada 60, menos um, são vencidos por carros com motores instalados na traseira.

Teimoso, Enzo Ferrari mantem o modelo D246 (foto abaixo) nas pistas não temporada em 60, com a alegação folclórica de que não se põe o cavalo atrás da carroça – mas ele não era tão teimoso assim e trata de desenvolver o modelo 156P, com motor traseiro.

Ao longo do ano, Hill marca apenas um 3º e um 4º lugares até Monza, penúltimo GP do ano, que ele vence brilhantemente, numa prova disputada no circuito completo, incluindo as míticas curvas inclinadas. O GP é um dos pontos altos da história da Ferrari: os três primeiros lugares no grid, os três primeiros na bandeirada, Richie Ghinter e Willy Mairese completando o pódio – mas não vamos esquecer que várias equipes preferiram não participar da prova, considerando o traçado perigoso demais…

Em compensação, a Ferrari não se inscreve para o último GP do ano, em Riverside, nos Estados Unidos, e Hill fica livre para competir com um Cooper T51 Climax (foto abaixo). Ele larga em 13º e termina em 6º. No Mundial é 5º colocado.

1961 + 1962

Estreia o Ferrari 156, o belíssimo Nariz de Tubarão (foto acima), que se torna dominante na temporada. Empurrada por um V6 traseiro, o modelo vence cinco dos oito GPs do ano, Hill e von Trips disputando a liderança do campeonato até o acidente em Monza, disputado novamente no circuito com as curvas inclinadas e vencido novamente por Hill.

Ele também conquista a sua segunda vitória em Le Mans estabelecendo recorde para a distância percorrida, de 4 476 km, média de 186 km/h.

Hill e Gendebian repetem a vitória em Le Mans 62, agora com o modelo 330 LM e o fazem também nos 1000 Km de Nurburgring.

Na F1, a equipe mantem a fé no modelo 156, mas sua competitividade se desmancha depois que Hill marca três pódios nas primeiras provas. Depois, zero pontos para Hill, apenas mais três para a equipe, que mergulha numa grande crise, que culmina com o rompimento do seu projetista chefe, Carlo Chiti, que deixa a equipe e funda a ATS, levando vários colegas da Ferrari inclusive Hill.

1963

A opção pela ATS, financiada por um milionário boliviano, não poderia ser mais mal-sucedida. Em nove GPs nos quais Hill foi inscrito, em quatro o carro – denominado “100” (fotos acima) – simplesmente não ficou pronto a tempo. Nos demais, Hill só conseguiu terminar um, em 11º. No GP da França, ele correu com um Lotus 24, mas também abandonou por quebra.

1964 e depois

Hill passa então à equipe Cooper, com o modelo T73 (foto acima) em todas as provas do ano menos uma, o GP da Áustria, onde tem de usar também um modelo o T66 – e batendo ambos!

O carro é pouco competitivo, a relação de Hill com o dono da equipe é péssima (“foi a pior experiência da minha vida”, disse ele) e Hill vai muito mal. Em nove GPs, consegue apenas um 6º lugar, em Brands Hatch, duas voltas atrás do vencedor, Jim Clark. São os últimos pontos conquistados pelo campeão discreto, que abandona a categoria no final do ano.

Ele chega a ser inscrito para o GP da Itália de 66 pela Eagle do amigo Dan Gurney, mas não conseguiu se classificar para a largada, reservada para os vinte mais rápidos. Hill pilotou um modelo T1F (foto abaixo).

Hill seguiu nas pistas apenas no Mundial de Sport-Protótipos. Ainda em 64, ele fez parte da equipe que deu início à aventura do Ford GT 40 na categoria, estreando em Nurburgring, em dupla com McLaren (foto abaixo).

Ganhou novamente os 1000 Km de Nurburgring em 66, pilotando um Chaparral e, em sua última corrida, venceu o BOAC 1000 de 67, disputado em Brands Hatch, ao volante de um Chaparral 2F (foto abaixo), em dupla com Mike Spence. Pode-se dizer que foi um encerramento de carreira com chave de ouro.

Phil Hill morreu 2008, aos 81 anos.

Abraços

Edu

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