Quartararo, O Novo

Smoke
23/07/2020
Campeão com asterisco
30/07/2020

O francês Fabio Quartararo venceu os dois Grande Prêmios disputados consecutivamente em Jerez de la Frontera, na tardia abertura do Mundial da MotoGP 2020. No GP da Espanha, dia 19, assumiu a liderança na nona das 25 voltas. No GP da Andaluzia, dia 26, venceu de ponta a ponta. Em ambas corridas saiu da pole-position.

 

O menino (21 anos), piloto da Yamaha M1 da equipe satélite Petronas, chegou de forma prepotente ao restrito clube dos vencedores de grandes prêmios da MotoGP. Em 2019, seu ano “rookie” na categoria máxima da motovelocidade, “lambeu” a vitória diversas vezes. Fez seis poles, sete pódios (cinco vezes no 2º lugar…), mas no degrau mais alto do pódio nunca havia pisado.

 

Foi exatamente em Jerez no ano passado que Fabio mostrou merecer a vaga na categoria principal ao conseguir sua primeira pole-position. Era sua quarta corrida do ano de estreia, e tal peripécia tirou um peso das costas de quem o pescou no viveiro da Moto2, categoria imediatamente anterior à principal.

 

Peso nas costas? Sim: Fabio chegou à MotoGP sem título nenhum no currículo e com apenas uma única magra vitória nos 67 GP que disputou “mezzo a mezzo” entre Moto2 e Moto3. Mais de um considerou a promoção do francês à MotoGP precipitada, gente que se remói pelo mau julgamento, eu entre estes, confesso.

 

Fabio Quartararo é, portanto, um fenômeno recente, potente e crescente. Um caso raro de piloto que nas categorias menores não exaltou, mas que desabrocha quando chega ao que é considerado o ápice da carreira na motovelocidade. Aliás, a Yamaha não perdeu tempo e Quartararo já está de contrato assinado para, em 2021, pular para a equipe oficial da Yamaha no lugar de Valentino Rossi, que muito provavelmente ocupará o lugar do francês. Um troca-troca incomum, mas que está praticamente definido (falta a assinatura de Rossi, mas dizem ser esta mera formalidade).

 

Falando em Valentino Rossi, vejam vocês, ele foi 3º colocado no GP andaluz, voltando a pisar em um pódio depois de um ano, três meses e 14 dias. Aos 41 anos, o velho leão, dono de sete títulos mundiais na MotoGP, ainda ruge. Na entrevista que se seguiu à sua 2ª vitória, Quartararo declarou que estar com seu ídolo Rossi no pódio foi especial. Já Valentino, que andou todo o GP atrás do seu fã sem conseguir alcançá-lo, quando perguntado sobre a pilotagem do menino não economizou: usou a palavra “velluto” (veludo, em italiano), fazendo aquele característico gesto com a mão, como que imitando um peixe nadando, para destacar a suavidade/facilidade da pilotagem do novo rival.

 

Valentino, seu atual companheiro na Yamaha oficial, Maverick Viñales (2º colocado nas duas corridas), e todo o resto do grid sabem que Fabio Quartararo é, à partir de agora, candidato fixo à vitória. É o mais palpável anti-Marc Márquez do momento. Quartararo – equipamento permitindo – surge para contestar o domínio absoluto do espanhol da Honda que, em Jerez, talvez tenha vivido o pior momento de sua mais do que brilhante carreira.

 

O transbordante Márquez – dono seis títulos na MotoGP em sete temporadas – era ponteiro na corrida de abertura da temporada quando saiu da pista na 5ª volta e afundou até a 16ª posição. Magistral (e exagerado), deu show escalando os retardatários até alcançar os ponteiros, a quatro voltas do fim. Estava em 3º lugar, mas quis ser 2º, e quem sabe tentar o 1º. Indomável! Mas um tombo estava no seu destino, mais um, só que neste acidente específico Márquez não deu sua costumeira sorte e foi golpeado pela roda traseira da moto, fraturando o braço direito entre ombro e cotovelo.

 

Grave? Podia ter sido pior, sempre pode… Operado na terça pós-GP, no sábado estava de novo ao guidão de sua Honda RC 213V, treinando para o GP andaluz. Marcou o 16º tempo entre os 22, alimentando sua fama de ser extraterrestre. Porém, na hora do qualifying, o braço disse chega, inchou e doeu, avisando a seu dono que ele deveria obedecer a natureza, admitir que sua temporada 2020 começaria com dois “zero pontos”.

 

Com seis títulos mundiais em sete anos de MotoGP, Márquez precisará não só de seu talento, mas também contar com algum azar dos adversários (leia-se Quartararo), para defender a coroa nesta esquisita temporada 2020. Serão 13 corridas disputadas em quatro meses e oito pistas diferentes, e onde errar não dará muita margem de recuperação. A não ser que você seja um Marc Márquez e não tenha medo de nada, nem mesmo do novo, representado por um sorridente francês chamado Fabio Quartararo.

 

 

ERIC GRANADO, VENDO DO ALTO

 

O único brasileiro a circular no high society do motociclismo mundial é o paulistano Eric Granado, 24 anos, este ano em sua segunda temporada da Copa do Mundo da MotoE, a novata categoria monomarca disputada com motos elétricas.

 

Granado fez praticamente toda sua carreira na Europa e em 2012 estreou na Moto2. Não foi bem, desceu à Moto3 no ano seguinte onde ficou até 2014, sem destaque. Em 2017 conseguiu o título de campeão europeu da Moto2, o que o levou novamente ao mundial. De novo, não se destacou.

 

Com o surgimento da MotoE, Eric se agarrou à oportunidade e finalmente está indo bem. O que explica isso? A MotoE é pesada, e exige de uma tocada mais física, portanto mais parecida com a que Eric emprega para levar a Honda CBR 1000RR Fireblade a vitórias no campeonato brasileiro de superbike, onde é dominador.

 

No ano passado Granado era considerado favorito ao título da MotoE mas terminou apenas em 3º, ele mesmo admitindo ter errado demais, entregando o campeonato e vice a gente menos veloz que ele, mas mais constante.

 

Este ano em Jerez, Eric começou muitíssimo bem, sendo sempre o mais rápido em todos os treinos, e venceu a corrida do dia 19 com facilidade. Já no final de semana seguinte, o fato de não largar da pole o obrigou a cavar caminho com determinação e pressa, já que as corridas da MotoE são curtinhas, em Jerez seis voltas em algo como dez-doze minutos, pois a autonomia das elétricas ainda é curta.

 

A escalada de Granado foi feroz, da 7ª posição na primeira passagem para a segunda, com direito a recorde da volta: parecia que Eric venceria de novo. Mas alguém atrás dele – o campeão de 2019, o italiano Matteo Ferrari –, perdeu o ponto da frenagem e o acertou por trás. Eric e sua chance de dobradinha foram para o chão. A sorte do brasileiro é que ainda terá mais cinco corridas ao longo deste ano para fazer o que deveria ter feito em 2019, ser campeão da MotoE, e quem sabe estender sua carreira internacional. Mundial de Superbikes ou MotoGP? Nada é impossível se ele confirmar que é um piloto-vinho, melhora quando envelhece…

 

 

ONDE ASSISTIR?

 

Até o ano passado, o canal pago SportTV transmitia as corridas do Mundial de Motovelocidade. A partir desse ano, os direitos passaram às mãos da Fox Sports. O benefício desta troca é ter Teo José e sua grande experiência em esportes a motor substituindo com brutal vantagem o estilo “que engraçadinho que eu sou!” (sem ser…) de Guto Nejaim. Já nos comentários, a voz de Fausto Macieira – um especialista em off-road que no decorrer dos anos de SportTV adquiriu boa expertise em motovelocidade – está nas mãos de um trio formado por Edgar Melo Filho, Tite Simões e… Alex Barros!

 

Edgar é p… velha dos comentários no automobilismo. Sua verve o ajuda a cumprir a função, empurrado pela grande experiência, inclusive nas pistas. Já Tite, jornalista malaco do mundo da moto, traz ao microfone o que pode faltar a Edgar, a experiência de guidão. Quanto a Alex Barros, sem dúvida o mais bem sucedido piloto brasileiro na motovelocidade, esperam-se comentários que reflitam sua vivência de duas décadas de Mundial, com relevante carreira internacional que durou de 1986 a 2007. Vencedor de sete Grande Prêmios nas 500/MotoGP, nunca campeão, por vezes foi capaz de fazer corridas dignas de um verdadeiro nº 1. Com este quarteto a Fox tem tudo para trocar a babação das redes sociais e gracinhas sem graça por mais informação. A conferir.

 

Abraços

 

Roberto Agresti

 

 

 

 

 

 

Roberto Agresti
Roberto Agresti
"Rato" de Interlagos que, com sorte (e expediente), visitou profissionalmente Hockenheim, Mônaco, Monza, Suzuka e outras. Sempre com uma câmera na mão e uma caneta na outra.

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