É a economia, estupido! – 1ª parte

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É a economia, estupido! – 2ª parte
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1992 era ano eleitoral nos Estados Unidos e o então presidente George Bush se apresentava para a reeleição. Seu rival nas urnas seria Bill Clinton, que partia sem muitas esperanças de sucesso, visto que Bush desfrutava de enorme popularidade.

Como medida desesperada para reverter a situação, o estrategista da campanha James Carville sugeriu que Clinton focalizasse a sua mensagem em assuntos cotidianos que afetassem diretamente a gente normal e, para isso, nada melhor que apelar ao bolso dos votantes.

Assim, Carville, para que ninguém se esquecesse disto, pendurou na sede da campanha de Clinton o seguinte cartaz que dizia: “é a economia, estúpido!”. A manobra acabou dando resultado e Clinton, contra todos os prognósticos, derrotou Bush, enquanto que a frase impregnaria a cultura política, não apenas dos Estados Unidos, mas de muitos outros países, pois ficou claro que o dinheiro no bolso da gente (a economia) é o que mais lhes preocupa.

A temporada de 2021, sem dúvida, foi a mais disputada e interessante dos últimos anos, pois, apesar de que apenas dois pilotos postularem o título desde o princípio, a disputa que mantiveram GP após GP foi das mais eletrizantes. Assim, ambos chegavam à corrida que encerrava o campeonato empatados, ainda que Max Verstappen dispusesse da vantagem de contar com mais vitórias do que Lewis Hamilton. Precisamente essa vantagem, parece, encorajou Max a exibir uma pilotagem ousada e desprovida de cautela e comedimento, pois não foi raro ver como o holandês não tinha nenhum reparo em se lançar nas curvas como um possesso, ora fosse para ultrapassar, ora evitar ser ultrapassado pelo britânico. Isto aconteceu no Brasil e na Arábia Saudita e só a prudência de Hamilton impediu que um choque entre ambos os deixasse fora da corrida, circunstância esta, dito seja, que beneficiava Max. Pedro de La Rosa, analisa aqui a manobra no Brasil:

https://www.youtube.com/watch?v=vGcStVxhxho

Assim, depois de que Hamilton descontasse a desvantagem que tinha para Max (que ainda matinha a vantagem de uma vitória a mais), se disputaria o GP de Abu Dhabi, no qual quem quer deles que vencesse… se consagraria campeão.

A vantagem dessa vitória extra pairava no ambiente, pois um choque entre ambos, com resultado de abandono, daria o título ao holandês. Inclusive, desde vários dias antes, se assumia como quase seguro que o choque era inevitável. Pelo menos, Max mostrou anteriormente que não tinha nenhuma intenção de evitá-lo, cabendo a Hamilton a tarefa de “fugir” do holandês, mantendo a maior distancia possível entre ambos, se queria ter alguma chance de somar o seu 8º título. Deste modo, e com um clima bastante rarefeito (os meios de comunicação esfregavam as mãos muito satisfeitos com as expectativas que a rivalidade estava gerando), se afrontava a última corrida da temporada nas areias do Emirado.

Max conseguia a pole, com Hamilton ao seu lado, mas quando as luzes verdes anunciam a largada, é o inglês quem pula na frente. Então, tivemos outra das típicas manobras intimidatórias das que Max fez gala durante a temporada: na curva seis, retarda ao máximo a freada, “mergulhando” ousadamente na curva. Hamilton, uma vez mais, evita ser abalroado abrindo a sua trajetória, ainda que a custa de superar os limites da pista, retornando a ela sem perder a posição. Horner protesta aduzindo que Hamilton se beneficiou do lance e devia ceder a posição a Max. O protesto é recusado. A manobra era uma cópia da anterior, no Brasil.

https://www.youtube.com/watch?v=ULbGCuzq6v4

Hamilton, na frente, mercê de um ritmo consistente, vai escapando. Max, apesar de largar com pneus macios, não conseguia evitar a fuga, seus pneus médios perdendo rendimento pouco a pouco até trocá-los por duros na volta 13. Uma volta depois, Hamilton também calça os duros.

Com as paradas, Max cai até a quarta posição, enquanto Hamilton deixa a liderança nas mãos de Pérez. Nesse instante, ao mexicano lhe pedem que trate de segurar Hamilton tanto quanto possível, de modo que Max possa se aproximar do inglês. Pérez cumpriu perfeitamente a sua missão, permitindo a Max descontar uns sete segundos, ainda que continuasse estando a quatro de Hamilton, que mantinha seu forte ritmo e conservava a sua vantagem.

Tudo seguiria assim até a volta 35, quando Giovinazzi tem de parar por problemas mecânicos, deixando o carro à beira da pista. Nesse momento, por uns instantes, é acionado o carro de segurança virtual e Max aproveita a circunstância para, novamente, trocar pneus e calças pneus macios. A papel daí, Max vai gradativamente se aproximando, baixando de 17” para 12” a diferença para Hamilton. Contudo, a esse ritmo, logo ficou claro que o holandês não poderia alcançar o inglês nas seis ou sete voltas que faltavam por disputar. O titulo parecia estar já fora do seu alcance!

Viria, então, o inesperado: na volta 53, Nicholas Latifi arrebenta seu carro num muro. Com a saída do carro de segurança na volta 54, a Red Bull aproveita para chamar Max e colocar-lhe pneus macios (já não tinham nada que perder mesmo).

A Mercedes mantém Hamilton em pista, pois seus pneus ainda rendiam bem e o tempo e o regulamente estavam ao seu favor. O canadense demoraria cerca de um minuto para sair do carro, após haver cumprido com a norma de apagar os sistemas elétricos, para segurança dos fiscais quando estes fossem retirar o bólido da pista. Nesse instante, os freios dianteiros, ardendo como estavam se incendeiam e nenhum dos fiscais presentes estava munido de extintor.

O caso é que tudo isto atrasa deixar a pista em condições de corrida e, portanto, a ordem preceptiva de liberar os carros com volta perdida para que descontem tais voltas e se situem em fila atrás dos líderes. Quando os fiscais informam que a pista estava livre e os carros já poderiam recuperar voltas perdidas, Michael Masi, o diretor da prova, incompreensivelmente, ordena que os carros mantenham as posições.

Masi, finalmente, ante a insistente petição de Christian Horner –“Por que não estamos tirando esses carros do caminho? Só precisamos de uma volta de corrida!” –, permite que Norris, Alonso, Ocon, Lecrerc e Vettel ultrapassem o carro de segurança e recuperem essa volta, enquanto que não se oferece a mesma possibilidade àqueles que estavam atrás de Max. Agora já se estava cobrindo a volta 57 e não havia tempo para retirar o carro de segurança cumprindo o regulamento… antes de que acabasse o GP.

Mais incompreensivelmente ainda foi quando Masi retira o carro de segurança nessa mesma volta 57, quando esses cinco pilotos apenas estavam a meio caminho de recuperar sua volta perdida, e libera a corrida para a última volta.

Para então, Max já estava justo atrás de Hamilton, que foi presa fácil do holandês e seus pneus macios novos. Com sua surpreendente decisão, Masi havia entregado em bandeja de prata o campeonato a Max.

Concluo em nosso próximo encontro, na próxima 4ª-feira, diz 26.

Abraços

Manuel Blanco

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

1 Comment

  1. Fernando marques disse:

    Manuel,

    Como sempre suas colunas são um show de bola.
    Não vou tecer nenhum comentário a mais pois confesso que estou curioso com a parte 2.

    A temporada de 2022 já começou quente aqui no GP total

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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