Continuamos a nossa resenha em apontar os grandes Titãs da Fórmula 1, dando sequência depois de abordar a década de 50, e a década de 60 vamos para os anos 70.
A década de 70 promoveu mudanças bem significativas a Fórmula 1, começando pelo aspecto financeiro, com a chegada dos patrocínios foi notória a transformação do ambiente e o peso dos resultados, que fica muito mais favorável aos pequenos e médio construtores, a capacidade financeira das equipes graças a entrada de corporações interessadas em divulgar suas marcas e seus produtos nos carros permitiram investimentos que deram chance a muitas equipes despontam e bater as equipes tradicionais, um colorido diferente toma conta do paddock, já que agora os carros carregam as cores de seus patrocinadores.
Nessa esteira temos também a maior participação da televisão na transmissão, tornando aos poucos a Fórmula 1 num espetáculo global.
Bernie Ecclestone entra de cabeça e se torna o pivô dessa mudança, com aval dos “garagistas”, ele toma o poder e com pulso firme eleva os padrões de organização da Fórmula 1, cria a FOCA e em pouco tempo traz para si os contratos multimilionários da televisão e patrocinadores
Pilotos e equipes se tornam superestrelas ao longo da década, também são beneficiados com o aporte de dinheiro que entra no jogo, os salários passam dos poucos milhares de dólares para cifras que crescem até a casa dos milhões de dólares
No aspecto técnico a aerodinâmica se torna o principal pilar de evolução, culminando com a chegada do efeito-solo em 1977, graças mais uma vez a genialidade de Colin Chapman
E vamos a relação da década de 70, separando em 3 blocos o critério de escolha os nossos Titãs:
Pilotos
Como piloto Lauda é um dos primeiros de sua geração a adotar uma postura pragmática e técnica num estilo de vida mais controlado fora das pistas buscando uma preparação mais profissionalizada, ele estuda, treina buscando se aperfeiçoar nos mínimos detalhes, isso era o oposto que os pilotos de uma geração anterior tinham como conduta
Com esse nível de profissionalismo ele era apelidado de piloto robô, mas os resultados acontecem e Lauda quebra o jejum de quase 11 anos de conquista de títulos por parte da Ferrari, se sagrando campeão em 1975 e voltando a repetir o feito em 1977
E sem dúvida um dos feitos que mais marcaram Lauda e os anos 70 foi o terrível acidente em 1976 no circuito de Nürburgring, Lauda sobrevive contra todos os prognósticos e volta a competir apenas 40 dias após o acidente, sua conduta no Japão na decisão do título de 1976, que ele perde para James Hunt, foi emblemática, ele simplesmente abandona uma corrida num diluvio colossal e admite ter sentido medo, simples e direto, esse era o seu estilo
Nos anos 70 Lauda conquista 2 títulos, 17 vitórias e 1 vice-campeonato, ele muda em 1978 para a equipe Brabham e na temporada de 1979 nos treinos para o GP do Canada surpreende o mundo ao anunciar que estava cansado de “correr em círculos” e se aposenta, bem ele vai voltar nos anos 80, mas é assunto para outra coluna
O escocês Stewart além dos resultados alcançados, 3 títulos, sendo 2 deles nos anos 70 (1971 e 1973) foi um dos primeiros pilotos a lutar por mais segurança nas pistas, nos anos 60 ele fez alguns desafetos nessa empreitada, mas à medida que seus resultados aconteciam os desafetos iam se calando, Stewart ganhou não só o respeito pelo papel que assumiu como pelo grande piloto que foi.
Sua melhor e mais terrível temporada foi a de 1973, naquele ano Stewart quebra o recorde de vitórias de seu compatriota Jim Clark e deixa a marca de 27 vitórias como recorde a ser quebrado, na corrida na Itália em Monza ele conquista seu tricampeonato numa das maiores recuperações já vista em pista após uma pit-stop não previsto
Relembre uma de nossas colunas Stewart e seu centésimo GP
O nome Fittipaldi no Brasil nos remete a nossa paixão por Fórmula 1, Emerson não foi o primeiro brasileiro na categoria, mas sua obstinação e dedicação nos brindou com as primeiras vitórias e a conquista de dois campeonatos (1972 e 1974) inteligente, tático e astuto Emerson se firmou muito rápido na categoria, estreou no GP da Inglaterra em 1970 e em apenas 4 corridas disputada consegue a primeira vitória no GP do EUA em Watkins Glen, ao final da temporada de 1975, com apenas 72 GPs disputados ele já trazia no currículo 14 vitórias, 2 títulos e 2 vice campeonatos, quando decide apostar suas fichas na equipe brasileira que levava seu nome, uma atitude que a luz da história também foi ousada e que demonstrou que ele tem no automobilismo uma paixão enorme, a conquista do segundo lugar no GP Brasil de 1978 foi muito comemorada
Ronnie Peterson ficou conhecido como o “sueco voador”, seu estilo acrobático de pilotagem certamente era visto com entusiasmo e levava os torcedores a loucura, sem dúvida mesmo sem ter conquistado um título, ele foi vice-campeão duas vezes (1971 e 1978) tendo conquistado 10 vitórias na categoria, seus melhores resultados aconteceram na equipe Lotus, ele brilhou em 1973 mesmo dividindo espaço com Emerson que era o campeão reinante
Peterson é dono de uma marca especial, ele foi o único piloto que venceu com a Lotus nos modelos 72, 77 e 78, carros emblemáticos e revolucionários dos anos 70
Infelizmente na disputa no GP da Itália em 1978 um acidente ceifou sua vida de maneira precoce, suas atravessadas controladas nas curvas ainda hoje são lembrança de um estilo ímpar de pilotar
Construtores
De tão genial que foi, Chapman volta a figurar em nossa lista, ele está na relação doa anos 60, nos anos 70 sua genialidade continuava a pleno vapor e alguns conceitos que ele trouxe naquela década foram primordiais para o resultado de algumas equipes, que já aguardavam a cada temporada o que esse genial inglês estava produzindo
Chapman foi responsável nos anos 70 iniciando em 1970 com o modelo 72 o conceito de refinamento aerodinâmico com um estilo suave e que aposentou os carros charutinhos
Com o modelo 72 Jochen Rindt foi o campeão de 1970, esse modelo foi sendo aperfeiçoado e em 1972 Emerson Fittipaldi conquista seu primeiro título, até os dias de hoje o modelo Lotus 72 foi o projeto mais longevo da Fórmula 1, tendo disputado 6 temporadas – de 1970 até 1975
Quando menos se esperava Chapman traz um novo conceito revolucionário ao lançar o Lotus 77, esse carro abre o conceito de carro asa usando um desenho de asa de avião invertida o que proporcionou um aumento da pressão aerodinâmica nos carros e um aumento na velocidade em curvas, com esse conceito a Lotus se sagra campeã em 1978 conquistando os títulos de pilotos e de construtores
Ken Tyrrell parecia mais com aquele tio que encontramos num almoço de domingo do que propriamente um construtor de carros de corridas, só que por traz dessa aparência estava um camarada que tinha em mente um claro propósito de conquistar algo de importante na Fórmula 1, duas parcerias importantes que ele soube costurar foram fundamentais para suas conquistas, a primeira com o piloto Jackie Stewart, e a outra com o projetista Derek Gardner
Com Stewart vieram 3 títulos de pilotos (1969, 1971 e 1973) e com o projeto de Gardner um título de construtor em 1971
Após a retirada de Stewart ao final de 1973 a equipe teve altos e baixos nos anos seguintes, mas o velho Ken esteve presente de forma marcante nos anos 70
Quem conheceu Frank Williams no início dos anos 70 com seus carros alugados e mambembes não apostariam um dólar furado naquele inglês simpático e perseverante que se mantinha no paddock no conceito de “vender o almoço para comprar o jantar”
Em 1970 ele tinha uma sólida parceria com o piloto Piers Courage que veio a falecer num acidente em Zandvoort na disputa do GP da Holanda, até 1975 sua equipe foi vivendo de parcerias efêmeras e fugazes, até que ele se junta com o projetista Patrick Head, consegue convencer árabes milionários para patrocinar sua equipe e a partir de 1978 seus carros ficam competitivos, a primeira vitória vem na Inglaterra em 1979 com o piloto Clay Regazzoni e o modelo FW07
Tendo herdado de sua família o título de Barão, Alexander Hesketh tomou gosto pelo automobilismo no começo dos anos 70, com uma excentricidade peculiar ele colocou o piloto James Hunt sobre sua tutela e até 1973 bancava uma equipe de Fórmula 3 para Hunt, nada de usar dinheiro de patrocínios, ele bancava tudo, em 1973 ele resolve entrar no mundo da Fórmula 1 mantendo a excentricidade de não ter nenhum patrocinador estampado em seus carros, além disso sua equipe ficou conhecida por bancar as festas mais extravagantes que o mundo da Fórmula 1 já vira até aquela época
Em 1974 a equipe estreia o modelo 308, projetado por Harvey Postlethwaite , era um modelo que se mostrava vez ou outra competitivo e em 1975 no GP da Holanda Hunt mantem Niki Lauda sob controle e vence a primeira e única corrida pela equipe inglesa, ao final daquele ano tendo gasto toda a sua fortuna pessoal Lord Hesketh se viu obrigado a fechar sua equipe, ele na verdade repassou o espolio para o chefe da equipe Anthony “Bubbles” Horsley
Os anos 70 sinalizava de forma clara que não havia mais espaço para mecenas na Fórmula 1 e Lord Hesketh acabou marcando um dos últimos bon-vivant que tentaram entrar no mundo da Fórmula 1
Carros
Carro que estreou no campeonato de 1970 usando o motor Ford Cosworth, com esse modelo no ano de 1970 Jochen Rindt vence 4 provas e conquista o título póstumo da categoria, em 1972 com o brasileiro Emerson Fittipaldi o modelo 72 na versão D volta a conquistar um título de pilotos
Até 1975 esse carro compete, tendo conquistado, 2 títulos de pilotos (1970 e 1972), 3 títulos de construtores (1970, 1972 e 1973) e 20 vitórias, foi o modelo mais longevo a vencer provas até hoje
Carro projetado por Mauro Forghieri, esses modelos a partir do 312 T representaram na época a passagem da Ferrari para um conceito mais moderno, o câmbio era transversal o que permitia uma melhor distribuição de peso e o chassi combinava a mistura de painéis de alumínio com tubos de aço, esses modelos venceram 3 títulos de pilotos – Lauda em 1975 e 1977, Jody Scheckter em 1979 – 4 títulos de construtores em 1975, 1976, 1977 e 1979 – 23 vitórias. Após essa fase a Ferrari amargou 21 anos sem conquistar um título de pilotos
Carro de concepção simples projetado por Gordon Coppuck, levou a McLaren ao patamar de equipe campeã tendo as conquistas dos campeonatos de pilotos de 1974 e 1976, com Emerson Fittipaldi e James Hunt no currículo, com 16 vitórias, esse modelo e suas versões estiveram nas pistas entre os anos de 1973 até 1977, sendo o segundo projeto mais longevo da Fórmula 1
Modelos usados nos campeonatos de 1977 e 1978, trouxeram à tona o conceito do carro asa e dominaram as corridas naqueles anos, em 1977 a fragilidade do carro não permitiu a Mário Andretti disputar mais firmemente o título de pilotos, em 1978 a diferença do modelo 78 era tão marcante que Andretti e Peterson foram respectivamente campeão e vice
Esse modelo encerou a lista de carros vencedores na era Chapman, uma pena
Essa é nossa lista para essa década, deixo o espaço livre para comentários, sugestões e contestações
Em nosso próximo encontro dia 30/06 vamos elencar os Titãs da década de 80
Até lá
Mário
1 Comment
Mário,
Incluo na lista:
– o Tyrrell de 6 rodas. Pode não ter sido um grande carro, mas fez sucesso.
No mais assino embaixo
O que não pode é deixar o Gilles de fora na década de 80
Fernando Marques
Niterói RJ